A Confederação de Organizações de Funcionários do Estado (COFE), a Coordenação de Sindicatos da Educação (CSEU), assim como federações estudantis, convocaram a uma paralisação nacional contra os cortes no orçamento público nesta quarta-feira (18) em Montevidéu. A mobilização denuncia uma redução de 15 bilhões de pesos (equivalente a R$ 1,8 bilhão) dos fundos públicos, sendo que mais da metade dos cortes afetam o funcionalismo público.
A passeata parte da Praça 1º de Maio e se dirige ao Palácio Legislativo para condenar a privatização do Porto de Montevidéu.
A "nova política portuária" do governo será votada nesta quarta-feira (18) pelo Parlamento e prevê a concessão da maior base portuária do país para a petroquímica belga Katoen Natie até 2081.
Além da Educação, os portuários, trabalhadores da Saúde Pública, do ministério de Agricultura e Pesca e do poder eleitoral aderiram ao dia de mobilização.
A prestação de contas do último período da presidência de Luis Lacalle Pou foi entregue na semana passada ao Congresso junto à proposta de orçamento anual. A Câmara de Deputados aprovou o texto na última terça-feira (17), depois de 15 horas de sessão. Agora o Senado, de maioria governista, tem até o dia 30 de agosto para analisar o projeto.
A bancada da Frente Ampla, que governou o país entre 2005 e 2020, e é composta por 13 do total de 30 senadores, declarou que votará contra a proposta, que representa uma retração do Estado.
"Longe de dar conta do momento crítico em que se encontra o país e se vale das consequências da pandemia para justificar a ausência de novas políticas e o corte das existentes", afirma a Frente Ampla em comunicado.
Afuera del Palacio Legislativo: movilización defendiendo la educación, salud, trabajo, salario, puerto de Montevideo.
— Frente Amplio (@Frente_Amplio) August 18, 2021
Los recortes disfrazados de "ahorro", son el empobrecimiento de políticas públicas en las que se privilegia a unos pocos y se menoscaba el derecho de todas/os. pic.twitter.com/uV4zL7Ej4p
O documento também diminui a projeção de criação de empregos de 50 mil para 20 mil novos postos de trabalho em 2021. O desemprego no país é de 9,7% da população, segundo cifras divulgadas em março pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Em março de 2020, o governo de Lacalle Pou já havia aprovado o decreto nº90, que estabelecia um teto de gastos para a administração pública.
Reforma na Educação
Na educação, há uma diminuição de 4% nos fundos. Segundo os sindicatos, é o maior corte desde o fim da ditadura e "não cobre o achatamento dos salários e a superlotação das escolas públicas".
A paralisação ainda reclama o direito à liberdade de organização sindical e a discussão da reforma curricular da Educação Básica com o magistério.
O presidente Luis Lacalle Pou afirmou que os professores "receberão uma formação ao respeito, mas a decisão cabe àqueles que foram eleitos pela população para governar".
De acordo com o grêmio de professores, o setor patronal, representado pela Administração Nacional de Educação Pública (ANEP), e parlamentares de direita buscam judicializar professores que foram liberados das salas de aula para o trabalho sindical.
Pandemia
Na saúde pública, o corte seria de 2,14 bilhões de pesos (cerca de R$265 milhões) no momento em que cerca de 80 mil uruguaios são atendidos por conta da crise sanitária.
Apesar de ter quase 70% da população vacinada, a própria prestação de contas aponta que foram gastos 0,8% do PIB no fundo de combate à pandemia, enquanto o previsto era 1,7%. Em todo o país, os contágios por covid-19 continuam aumentando. Até o momento, são 384 mil contaminados e 6.007 mortos pela doença.
O presidente da COFE, Martín Pereyra, assegurou que, apesar da greve, a vacinação contra a covid-19 não seria interrompida, assim como a atenção de emergência e casos de internação grave. "Buscamos afetar o menos possível a população em geral".
Edição: Thales Schmidt