Em Manaus, Bolsonaro desrespeitou a ciência e demonstrou a sua falta de empatia
Na última quarta-feira (18), Bolsonaro esteve no Amazonas, na cidade de Manaus. A agenda era a participação na inauguração de um conjunto de moradias, o Residencial Manauara 2. Ocorre que esse conjunto de apartamentos teve suas obras iniciadas em 2013, no governo Dilma Rousseff, como parte do programa Minha Casa Minha Vida.
Para que o presidente não passasse por mais um vexame público, os organizadores do evento retiraram a grande placa de identificação da obra, pois continha, além das informações técnicas, a denominação do Programa Minha Casa Minha Vida, tão fortemente vinculado aos governos anteriores, de Lula e Dilma.
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É de se lamentar que Bolsonaro tenha voltado ao estado do Amazonas, e à cidade de Manaus, onde tantas pessoas morreram por falta de oxigênio, porque seu governo não garantiu o socorro para salvar vidas, para inaugurar uma obra que não é sua.
É lamentável que Bolsonaro, mais uma vez em Manaus, não tenha feito um único gesto de solidariedade, de humanidade, não tenha anunciado uma única medida para amenizar a dor das famílias que perderam seus entes queridos, principalmente daqueles que morreram por falta de ar, de oxigênio, por falta de um atendimento digno à saúde, conforme preconiza a Constituição.
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Em Manaus, Bolsonaro não falou do desemprego, não anunciou o início de uma única obra sequer, de moradia, na área da educação, na infraestrutura, tampouco anunciou medidas para fortalecer o desenvolvimento do nosso estado, medidas em favor da Zona Franca ou dos carentes municípios do interior;
Em Manaus, Bolsonaro não falou dos tantos projetos que encaminha para o Congresso Nacional e sua maioria parlamentar aprova, sem dó nem piedade. Projetos que retiram direitos dos trabalhadores, que minam e enfraquecem o serviço público, a educação e o patrimônio nacional;
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Em Manaus o que Bolsonaro fez (nenhuma novidade nisso) foi falar muita mentira, muita fake news. Quando, por exemplo, comentou a respeito da inflação, da carestia, culpou o isolamento social, determinado pelos governadores e defendido pela mídia. Disse mais uma vez que foi alijado das ações de combate à pandemia.
Quando tratou dos preços dos combustíveis, o gás de cozinha custando mais de R$ 100 o botijão, e a gasolina de R$ 6 a R$ 7 o litro, o presidente, da mesma forma, colocou a culpa nos governadores, nos impostos estaduais. Como se quando o botijão de gás custava R$ 40 e o litro da gasolina R$ 3, o valor do ICMS não fosse o mesmo. Bolsonaro tenta se eximir de uma culpa que é dele, pois mantém a política que vincula o aumento dos preços no mercado nacional aos preços internacionais, em dólar, razão dos tantos absurdos e frequentes aumentos nos combustíveis.
Sabendo o quanto a carestia tem atingido a população, principalmente a parcela mais pobre, Bolsonaro tenta jogar a culpa nos outros, ou seja, não seria dele a responsabilidade pelo descontrole da economia, pela inflação e pelo caos porque passa Brasil, que não apenas corrói as finanças populares, mas tem levado a fome a um número cada vez maior de famílias, aprofundando o empobrecimento e o sofrimento das maioria de nossa gente.
O que Bolsonaro fez em Manaus, mais uma vez, foi desrespeitar a ciência, foi demonstrar a sua falta de empatia, de solidariedade. Bolsonaro ficou o tempo todo sem máscara, cumprimentando, abraçando pessoas e pegando crianças no colo. Foram novas cenas de desrespeito, cenas dantescas, que se somam à tantas outras.
Da triste e indispensável visita que Bolsonaro fez à Manaus algo, entretanto, precisa ser registrado e destacado: a diminuição significativa da participação popular em seus eventos, apesar do forte chamamento e propaganda.
Esses esvaziamentos, tanto nos eventos oficiais do governo, como nos atos públicos e manifestações de apoio ao presidente, são demonstrações cabais, conforme registram as últimas pesquisas, do crescimento da desaprovação ao seu governo.
Não tenho dúvidas, aliás, tenho absoluta certeza de que um dia Bolsonaro ainda vai receber, do Amazonas, um diploma à sua altura. Um diploma de persona non grata.
*Vanessa Grazziotin é ex-senadora da República e membro do Comitê Central do PCdoB. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Vivian Virissimo