Nos comícios, eu gostava era de ouvir os candidatos a vereador dos dois partidos. Era diversão certa
No último ano em que morei na minha terra natal, a cidade de Nova Resende, em 1962, tinha eleições para prefeito e vereadores. Só dois partidos concorriam: o PSD e a UDN. O prefeito, João Silva, era do PSD.
Nos comícios, eu gostava era de ouvir os candidatos a vereador dos dois partidos. Era diversão certa. Um candidato da UDN, o Ditão, era o mais popular de todos, e acreditava-se que sua eleição estava garantida.
Mais causos: Pra que óculos?
O último comício da UDN foi no distrito de Petúnia, uma vila bem agradável, que fica a cerca de 20 quilômetros da cidade, e tem ao lado um bairro rural chamado Mandioca. Era uma tarde de domingo e eu fui lá. Uma multidão esperava na praça.
Um caminhão servia de palanque. Instalaram na carroceria dele um alto falante, e os candidatos se revezavam, falando mal do prefeito e do candidato do PSD à sua sucessão.
Quando anunciaram o Ditão, como candidato que faria seu discurso, houve uma vibração na plateia, não só por causa da popularidade dele, mas também porque ele sempre falava coisas que nos divertiam.
E ele não negou fogo.
Mais causos: Os feios também amam
Antes de pedir votos pra ele mesmo e para o candidato a prefeito da UDN, e contra o candidato do PSD, começou a desancar o prefeito que estava no fim do mandato, falando que ele era péssimo administrador.
Um dos problemas sentidos pelos moradores de Petúnia era o mau estado das estradas, todas de terra. E o Ditão mandou ver nesse assunto:
“O João Silva não cuida das estradas”, disse ele.
“Elas estão ruins no município inteiro. Tem lugar que não adianta ter carro, porque não dá pra passar. Tanto que eu que tenho jipe, mas tenho que ir a cavalo no meu sogro”.
Mais causos: Viajando de jardineira
Risadas gerais, mas ele não ligou. Continuou:
“E pra vir na Petúnia, quando está chovendo? Deus me livre! Teve um dia que eu vim aqui, de jipe, tinha que ficar olhando os buracos pra não cair neles, e por fim nem vi pra onde estava indo. Quando pensei que estava entrando na Petúnia, estava entrando na mandioca”.
Aí foi vibração geral... Nem lembro o resto. Mas a UDN entrou na mandioca mesmo: perdeu. O Ditão também perdeu. Muita gente achava que ele já estava eleito e votava para tentar eleger outro.
Entrou na mandioca também.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir