Em Curitiba, no Paraná, as condições de vida da população pioraram com a pandemia e a crise econômica, o que de imediato compromete o pagamento do aluguel e força a busca pelo sonho da moradia própria em áreas de ocupação.
Apenas em 2020, mais de 10 ocupações foram organizadas na cidade, todas elas com a presença de mais de 200 famílias. Com o crescimento das ocupações, houve também, ao menos, seis execuções de despejo forçado. Entre as que conseguiram se manter, as famílias enfrentam problemas como a questão da sobrevivência, do emprego e, consequentemente, da alimentação.
:: Especial | Fome no Brasil: a luta de famílias brasileiras para garantir comida na mesa ::
Na ocupação Vila União, localizada no bairro Tatuquara, na periferia extrema de Curitiba, que abriga cerca de 300 famílias, a cozinha comunitária supre, desde o início, a demanda da maioria dos ocupantes por refeições diárias.
No final de julho, o espaço foi revitalizado com apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), tornando-se o espaço Olga Vive, em homenagem à lutadora popular falecida devido à covid-19.
Aparecida, vendedora e uma das moradoras e cozinheiras do local, afirma que boa parte das famílias depende do café, almoço e jantar preparados diariamente com o trabalho de mulheres da ocupação.
:: Brasil de Fato lança tabloide especial: “Fome, desemprego, corrupção e mais de 570 mil mortos” ::
“Cerca de 70% dos moradores comem na cozinha. E 30% cozinham na casa deles. Mesmo com fogão, muitos continuam a comer conosco. Eu mesma estou sem fogão porque ainda não trouxe a mudança para cá. Trabalhava com venda de salgados na rua. Tenho ainda o sonho de voltar a vender salgados na rua”, comenta.
Aluguel e fome
Logo no início da ocupação Nova Guaporé 2, em outubro do ano passado, a reportagem do Brasil de Fato Paraná conversou com o casal Marcelino da Silva Lemos e Jucélia Ribeiro de Oliveira, grávida de sete meses à época.
Na época, o que os motivou a participar de uma área de ocupação, que hoje abriga 100 famílias, foi o alto custo de vida. Calculavam o preço do aluguel, mais água e luz em torno de R$ 800.
“Eu fiz 60 anos no domingo e trabalho vendendo pano de prato, balas e doces no sinaleiro. A minha esposa é ‘fichada’, mas está em casa por causa da pandemia. Já eu com 60 anos tenho dificuldades de conseguir um trabalho fichado”, exclama Lemos.
O trabalho na rua, a dificuldade nas vendas e a jornada de trabalho informal e exaustiva tocam justamente no baixo acesso à alimentação necessária. “Tem vezes que a gente chega trançando as pernas de fome. É o que todos que estão aqui é cada qual tentando escapar do aluguel para poder oferecer uma vida um pouco melhor para os filhos”, comenta.
:: Cozinha comunitária completa um ano no bairro Novo Mundo, em Curitiba (PR) ::
Organização popular
Em menos de um ano, diferentes movimentos populares organizam cozinhas comunitárias que atendem a famílias da capital e da região metropolitana de Curitiba. Uma experiência inicial foi organizada pelo MST e pelo coletivo Marmitas da Terra. Localizada no centro da cidade, a iniciativa produz 1100 refeições em média para distribuir à população em situação de rua e também para as áreas onde estão as ocupações.
:: Reajuste no preço da energia e da gasolina fazem Curitiba (PR) ter a maior inflação do país ::
Além dessa experiência, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) está investindo em uma campanha para construção de uma cozinha comunitária, que será localizada na ocupação Nova Veneza, no bairro Tatuquara.
Já a União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), que agrupa associações de moradores no bairro Novo Mundo, no chamado Bolsão Formosa, já ultrapassou a marca de 10 mil refeições produzidas e servidas há um ano todas, às quintas-feiras.
A ocupação Vila União, por sua vez, possui cozinha e produção diária de refeições. Semanalmente, as três experiências somam 1600 refeições distribuídas.
__
Especial Fome no Brasil
Ficha técnica:
Coordenação do projeto: Mariana Pitasse e Rodrigo Chagas | Edição: Kátia Marko, Monyse Ravena, Fredi Vasconcelos, Vanessa Gonzaga, Larissa Costa, Leandro Melito, Mariana Pitasse e Rodrigo Chagas | Reportagem: Eduardo Miranda, Jaqueline Deister, Wallace Oliveira, Ayrton Centeno, Vinícius Sobreira, Lucila Bezerra, Giorgia Prates, Pedro Carrano, Ana Carolina Caldas, Marcelo Gomes, Francisco Barbosa, Pedro Rafael Vilela, Murilo Pajolla, Pedro Stropasolas e Daniel Giovanaz | Identidade visual: Fernando Bertolo | Artes: Michele Gonçalves | Rádio: Camila Salmazio, Geisa Marques, Douglas Matos, Daniel Lamir, Adilson Oliveira, André Paroche e Lua Gatinoni | Audiovisual: Marina Rara, Isa Chedid, Leonardo Rodrigues e Jorge Mendes | Redes sociais: Cris Rodrigues, Larissa Guold, Guilherme Faro Bonan, Joanne Motta e Vitor Shimomura | Coordenação de jornalismo: Rodrigo Durão | Direção CPMídias: Lucio Centeno e Nina Fideles.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos