Emergência climática

Abaixo-assinado na Argentina exige debate sobre meio ambiente nas eleições

Iniciativa popular defende que a agenda ambiental é negligenciada e que é necessário "habilitar a discussão"

Brasil de Fato | Buenos Aires (Argentina) |
"É evidente a relação direta entre pobreza estrutural e destruição de ecossistemas", afirma documento do abaixo-assinado. - Marcelo MANERA / AFP

Personalidades, intelectuais, escritores, docentes, artistas, investigadores, universitários e ativistas da Argentina assinaram e difundiram um abaixo-assinado solicitando que 25% das perguntas de jornalistas aos candidatos das eleições legislativas deste ano sejam sobre a temática socioambiental e a emergência climática.

Um vídeo ajudou a impulsionar o alcance da campanha e o documento já reúne quase 3 mil assinaturas. Nele, figuras como a cantora Julieta Venegas e o líder mapuche Jorge Nawell denunciam o silêncio de políticos e meios de comunicação diante da crise ambiental. A campanha leva a hashtag #NoNosDejenSolxs ("não nos deixem sozinhxs", em tradução livre e respeitando o uso de linguagem neutra).

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Na última semana, circularam o mundo as imagens de capivaras famintas buscando alimentos em condomínios de luxo em Buenos Aires, na Argentina. Mais que invasoras, como a maioria dos meios de comunicação afirmou, elas foram invadidas.

As áreas pantanosas, chamadas em castelhano de humedales, sofrem com constantes incêndios, com a especulação imobiliária e a expansão da fronteira agrícola. Ambientalistas defendem o projeto de lei de zonas úmidas e a militância tem se intensificado com a acentuação da crise climática. 

No entanto, pouco tem se falado sobre a crise ambiental no âmbito político. A Argentina encara um ano eleitoral após recordes de incêndios, a seca histórica do rio Paraná e duas ameaças latentes: o fechamento do acordo de fábricas suínas com a China, que voltou à pauta nos últimos dias, e a exploração do jazida petrolífero de Vaca Muerta, na Patagônia.

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"Não é verdade que este seja um debate de interesse apenas dos 'ambientalistas', como tentam fazer parecer", pontua o documento do abaixo-assinado. "As pandemias de origem zoonótica ou o esgotamento hídrico batem à porta de todxs. Por isso, é urgente pensar uma agenda socioambiental com participação cidadã."

"É evidente a relação direta entre pobreza estrutural e destruição de ecossistemas", continua. "Os representantes políticos têm uma agenda de desenvolvimento atada ao passado, caduca, que não contempla nem o presente nem o futuro das crianças e jovens. (...) Enquanto a expansão do mal desenvolvimento busca se impor sem licença social, a falta de uma nova visão de mundo pressupõe um desastre. Segundo o último relatório do IPP, há danos irreversíveis mas ainda estamos em tempo de reverter os piores impactos. Por isso, é urgente que o setor político e os meios de comunicação estejam à altura dos desafios desta crise."

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Nesse sentido, apresentam uma longa lista de propostas ecológicas, das quais se destacam: um projeto de lei de orçamentos mínimos para a proteção ambiental das zonas úmidas; um projeto de lei nacional de acesso a água potável, que declare o acesso à água como direito humano; um projeto de lei de delitos contra o ambiente e a natureza; a proibição total de desmontes dos bosques nativos diante do avanço do desmatamento; um projeto de lei de agrotóxicos que proíba a aplicação aérea e a menos de 1.500 metros de escolas rurais, moradias e assentamentos urbanos; e um projeto de lei de acesso à terra e promoção da agroecologia como sistema integral de produção, comercialização, agroindustrialização e consumo de alimentos.

Edição: Thales Schmidt