Covid-19

‘Corrida por terceira dose sugere desorganização e desespero’ diz médica ao Programa Bem Viver

Para especialista, falta de coordenação na vacinação contra Covid-19 gera corrida política e atrasa controle

Ouça o áudio:

Recomendação é que terceira dose seja com imunizante da farmacêuticas Pfizer e BioNTech - Thomas Kienzle/AFP
Se terceira dose não for implementada de forma coordenada pode prejudicar o cronograma

Ainda com algumas incertezas sobre quem deve receber a terceira dose da vacina contra a Covid-19 e com apenas 28% da população do país completamente imunizada, a corrida de estados e municípios pela terceira dose reforça o descompasso entre o Ministério da Saúde e os outros entes federados. Isso prejudica o Programa Nacional de Imunização (PNI) e cria uma corrida para atender interesses políticos, segundo a médica Fernanda Americano Freitas Silva, ouvida na edição de hoje (30) do Programa Bem Viver.

“O debate científico sobre a terceira dose segue com algumas incertezas. É importante analisar o contexto atual: tivemos um enfrentamento pouco eficaz da pandemia. Esse descompasso na tomada de decisões devido às inconstâncias do Ministério da Saúde acabou por descentralizar as ações do PNI, que resultou em divergências no calendário vacinal”, destacou. “Era esperado que houvesse mais unicidade. O contrário sugere desorganização, desespero por parte dos municípios devido à dificuldade de ter respostas e a outros interesse políticos associados.”

Na última quarta-feira (25), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez um pronunciamento oficial informando que será aplicada uma dose de reforço da vacina contra a Covid em todos os indivíduos imunossuprimidos e nos idosos acima de 70 anos. Segundo o Ministério, a imunização deverá ser feita, preferencialmente, com uma dose da Pfizer ou, de maneira alternativa, com a vacina da Janssen ou Astrazeneca.

A decisão veio após uma reunião, realizada na terça (24), entre representantes do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Caúde (Conasems) e da Câmara Técnica Assessora de Imunização Covid-19.

O anúncio acelerou a corrida de estados e municípios pela aplicação da terceira dose. Já na quarta, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), comunicou que o estado começará a revacinação em 6 de setembro. No Mato Grosso, a aplicação da terceira dose já começou, assim como na capital maranhense, São Luís. No Rio de Janeiro a ideia é iniciar o reforço na primeira semana de setembro. Espírito Sanyo, Minas Gerais, Santa Catarina, Roraima e Goiás também pretendem se antecipar.

“A distribuição de vacinas pelo PNI, até o momento, é realizada para primeira e segunda dose e ainda temos grande parte da população para vacinar. Com alguns municípios aplicando as vacinas segundo a politica local, pode faltar segundas doses ou mesmo atrasar as primeiras em parte da população. Se a terceira dose não for implementada de forma coordenada e organizada pode prejudicar todo o cronograma”, ressaltou Fernanda, Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, ao podcast A Covid-19 na Semana, repercutido no Bem Viver.

Jalapão privatizado

Na última semana, foi aprovado o projeto de lei estadual que libera a privatização do Parque do Jalapão, no Tocantins, um dos recantos de maior beleza da região norte do país. Para além dos atrativos naturais, existe uma história secular no local: sete comunidades quilombolas que vivem em áreas próximas ou dentro do parque serão diretamente afetadas pela medida.

Segundo o projeto de lei, aprovado pela Assembleia Legislativa de Tocantins e já sancionado pelo governador Mauro Carlesse, nenhuma comunidade será afetada na venda do parque para a iniciativa privada. A população quilombola duvida dessa afirmação, porque não foi questionada sobre o tema. Nenhum membro das sete comunidades participou da elaboração da proposta.

:: Privatização do Jalapão é aprovada e causa revolta em comunidades quilombolas ::

Partidos de oposição ao governo do estado questionam também a superficialidade do texto aprovado. São apenas duas páginas que, segundo os deputados, não especificam como ocorrerá o processo de privatização, nem dá garantias para as comunidades, que dependem do território para manter seu modo de vida e sua cultura preservada.

Sereias da Penha

Você já ouviu falar de biojoias? Como o nome indica, são peças feitas com materiais da natureza. Na comunidade da Penha, em João Pessoa, um reduto tradicional de pesca, mulheres transformam escamas de peixe em peças finas, que já desfilaram nas passarelas do São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do país.

Em 2014 o Instituto Federal da Paraíba ofereceu uma oficina para a população local desenvolver esse tipo de artesanato, voltado especialmente para mulheres que estavam desempregadas. A partir de escamas de peixe, material descartado por pescadores e peixarias, elas aprenderam a criar colares, brincos e até flores. O sucesso das peças rendeu a elas o nome de Sereias da Penha.

:: Escamas de peixe se tornam brincos e colares nas mãos das Sereias da Penha :: 


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Edição: Sarah Fernandes