Ao melhor estilo de seu guia político, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado estadual Jessé Lopes (PSL), de Santa Catarina, conseguiu visibilidade nacional, na última terça-feira (31), não pelo que faz no mandato, mas pelas polêmicas que alimenta fora do gabinete.
Ao receber o colombiano Marco Antonio Heredia Viveiros, agressor de Maria da Penha, e acolher sua versão sobre os crimes bárbaros que cometeu, o bolsonarista ofendeu a luta das mulheres contra a violência.
“O marido da Maria da Penha visitou meu gabinete e contou a versão sobre o caso que virou lei no Brasil. Sua história é, no mínimo, intrigante”, escreveu Lopes em suas redes sociais, ao publicar uma foto com Viveiros, que foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão pela justiça brasileira por tentar matar sua ex-esposa, Maria da Penha Maia Fernandes.
Em 2020, após mulheres da campanha "Não é não" distribuírem adesivos em Florianópolis para combater o assédio e o machismo no carnaval da capital catarinense, Lopes foi às redes reclamar: “Não sejamos hipócritas. Quem, seja homem ou mulher, não gosta de ser 'assediado(a)'? Massageia o ego, mesmo que não se tenha interesse na pessoa que tomou a atitude.”
“Após as mulheres já terem conquistado todos os direitos necessários, inclusive tendo até, muitas vezes, mais direitos que os homens, hoje as pautas feministas visam em seus atos mais extremistas tirar direitos”, disse o parlamentar em suas redes sociais.
Perfil
Casado com Moyra Lopes desde 2011 e pai de um menino, Lopes é original de Criciúma e formado em odontologia. No município catarinense, fundou e presidiu o PSL, partido pelo qual se elegeu, em 2018, à Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (ALESC), com 31.595 votos, na esteira do bolsonarismo.
Durante a campanha, percorria as ruas do estado com camisetas que estampavam o rosto do presidente e chegou a expor, nas redes sociais, imagens do filho fazendo gesto de arma com as mãos, imitando o presidente da República.
Ao Tribunal Superior Eleitoral, Lopes declarou possuir R$ 251 mil em patrimônio, divididos em um carro no valor de R$ 100 mil, três terrenos e cotas do Sistema Unicred, cooperativa de “soluções financeiras” que atua em Santa Catarina.
Lopes assumiu o mandato em 1 de janeiro de 2019. Desde então, de acordo com o Portal da Transparência da Alesc, apresentou apenas seis projetos de lei, todos em 2021. Chama a atenção que o deputado já encaminhou 19 solicitações de homenagens ou promoções para policiais militares, civis ou bombeiros.
Em uma moção, de 28 de maio de 2021, Lopes pediu à Alesc “aplauso aos membros da diretoria executiva e do Conselho Fiscal da Federação Catarinense de Jiu-Jitsu, que realizaram excepcional condução dos trabalhos no quadriênio de 2017-2021”. O deputado é faixa preta na modalidade de luta, assim como em Karatê.
Na Alesc, Lopes integra cinco comissões: Direitos Humanos, Finanças e Tributação, Comissão de Prevenção e Combate às Drogas, Proteção Civil e Segurança Pública.
Caso Maria da Penha
Em 1983, o economista Marco Antonio Heredia Viveiros atirou nas costas de Maria da Penha enquanto ela dormia. O tiro a deixou paraplégica. O colombiano alegou à polícia que o “incidente” teria ocorrido após uma tentativa de assalto, fato refutado pela perícia e desconsiderada pela Justiça.
No mesmo ano, o colombiano tentou eletrocutar Maria da Penha durante um banho. A brasileira acabara de voltar da cirurgia e diversas internações, para tratar as sequelas do tiro que levou do companheiro.
Em 2002, Viveiros foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão. Um ano antes, o Brasil foi condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos por omissão em relação à violência doméstica, após a Justiça do país ser denunciada pela negligência de quase 20 anos no caso de Maria da Penha.
Em 7 de agosto de 2006, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, que legisla sobre a violência doméstica contra mulheres.
Edição: Leandro Melito