Um artigo acadêmico escrito por dois autores brasileiros sobre o combate à pandemia na China foi eleito o “melhor paper entre profissionais” na Conferência Internacional sobre Organização Pública (ICONPO) de 2021, organizada na segunda quinzena de agosto pela Sociedade de Relações Públicas da Ásia-Pacífico, com sede na Tailândia.
A conferência foi realizada virtualmente e reuniu pesquisadores da China, da Indonésia, da Malásia, entre outros países da região – que abrange Ásia Oriental, sul e sudeste da Ásia, além da Oceania.
O tema do evento era Governança Digital e Gestão de Crises após a Covid-19: Uma Chamada para Ação.
O texto premiado, intitulado O Estado Chinês no Combate à Covid-19: Gestão de Crise em Análise, foi escrito por José Renato Peneluppi Jr., advogado e doutor em Administração Pública pela Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia (HUST), e Olívia Bulla, mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em mercado financeiro e pesquisadora de temas relacionados à China.
O objetivo do estudo era mensurar o impacto da atuação da governança do Estado chinês na esfera da administração pública, comunicando as ações e os processos realizados no combate à covid-19.
Segundo os pesquisadores, o Partido Comunista da China (PCCh) teve papel decisivo na coordenação das medidas entre os diferentes atores sociais – cidadãos, organizações e empresas, por exemplo.
No texto, os autores brasileiros mencionam ferramentas tecnológicas usadas pelo Estado chinês no enfrentamento ao novo coronavírus, como o uso de QR Codes e o sistema de crédito social. O artigo também analisa a capacidade de reação e de reorganização da produção de manufaturas no país em um curto intervalo de tempo.
Olívia Bulla e José Renato Peneluppi Jr. estudam e trocam informações e experiências sobre o tema há mais de um ano.
“A gente percebeu que a resposta da China no combate ao coronavírus foi mais eficaz do que se viu pelo mundo, salvo raras exceções”, afirma Olívia Bulla.
“O funcionamento do sistema político, do modelo econômico, e a própria cultura da sociedade explicam a forma de combate [à pandemia] na China. Todas as estratégias do país para enfrentar o coronavírus falam muito sobre o que é o Estado chinês, o que é o socialismo de mercado, e mostram a eficácia desse sistema.”
Com população superior a 1,4 bilhão, a China teve cerca de 0,12% das mortes causadas pela covid-19 no planeta.
Peneluppi mora em Wuhan há onze anos e conversou com o Brasil de Fato duas vezes durante a pandemia. Na primeira, em 2020, elogiou os esforços da China para responder de forma rápida e eficaz à crise sanitária. Na segunda, em janeiro deste ano, o advogado comemorou o retorno às atividades na cidade, que foi o primeiro epicentro da covid no mundo.
Há duas semanas, ele precisou ficar sete dias isolado, para evitar a disseminação da variante delta. Os chineses cumpriram as medidas rigorosamente, e a rotina foi gradualmente retomada.
“O lockdown na China é executado com base na política de quatro fases: isolar, testar, rastrear e tratar. Esse método tem garantido zerar os casos”, explica.
“Nos casos mais recentes, o lockdown não ocorreu em cidades inteiras, mas em bairros e regiões específicas onde os casos foram rastreados. O isolamento dura semanas, e não mais meses, resultado do aprimoramento do método de quatro fases. Isso deixa claro que nunca se tratou de um método autoritário”, completa, lembrando que a Nova Zelândia hoje utiliza o mesmo método do Partido Comunista Chinês.
O brasileiro acrescenta que a eficiência das “técnicas de política pública, centrais na guerra popular da China contra o vírus” foi comprovada no enfrentamento à variante delta. Porém, faz um alerta sobre os próximos meses de pandemia.
“O futuro da humanidade é comum, e o nosso destino, compartilhado. A total superação da covid só é possível uma vez que todos os países do mundo também controlem a epidemia. Caso contrário, novas variantes do vírus ameaçarão nosso futuro”, finaliza.
Edição: Leandro Melito