Mas metem a mão na grana que não lhes pertence, enganam seguidores trouxas ou também cúmplices
Pensando em personagens que tomaram o poder no Brasil propondo-se a moralizar tudo, não roubar nem permitir que os outros roubassem e deram nisso que estamos vendo, veio à minha cabeça uma expressão que nunca mais ouvi: amigo do alheio.
Tem vários sinônimos, alguns deles pouco usados atualmente, embora a roubalheira esteja firme e forte.
Entre esses sinônimos tem o mão-leve, que se deve à habilidade do ladrão para enfiar a mão no bolso da vítima e tirar a carteira, sem que ela perceba.
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Em São Paulo, esse tipo era chamado de punguista. Não assaltava à mão armada, furtava. Geralmente agia em ônibus ou bonde lotado. A palavra punguista é gíria importada de malandros de Buenos Aires.
Vigarista tem uma história interessante, teve origem no Rio de Janeiro. Um jovem português aportou na cidade e vivia de empréstimos que nunca seriam pagos.
Com muita esperteza se aproximava de famílias ricas, dizendo que era sobrinho de um bispo que viria para o Brasil e, querendo ficar bem com ele, emprestavam o que pedia prometendo pagar quando o tio religioso chegasse.
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Só que o rapaz não era sobrinho de bispo nenhum. Por isso, esse tipo de golpe passou a ser chamado de conto do vigário, e o praticante era vigarista.
Larápio vem do tempo da Roma antiga. Segundo contam, Lucius Antonius Rufus Appius, um pretor conhecido por vender sentenças a quem pagasse mais, como uns juízes dos tempos atuais, assinava L. A. R. Appius, e o povo chamava os corruptos de larappius, juntando as iniciais ao sobrenome, e foi aportuguesada para larápio.
Pra terminar, lembro uma expressão utilizada ainda hoje, santo do pau oco. Existem várias versões como ela surgiu. A mais comum, mais aceita, é que nos séculos XVIII e XIX usavam grandes imagens de santos para contrabandear ouro e pedras preciosas.
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O santo parecia de madeira maciça, mas na verdade era oco e dentro dele ia o contrabando.
Essa expressão, pra mim, é a mais adequada para uns espertos aqui, que falam muito em Deus, juram ser santos... mas metem a mão na grana que não lhes pertence, enganam seguidores trouxas ou também cúmplices.
E dizem que os outros é que são ladrões. São capazes até de gritar “pega ladrão”, acusando as vítimas dos seus roubos.
Bom... quem acredita neles, merece.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir