O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), determinou a volta às aulas de todos os estudantes da rede municipal de ensino, inclusive do ensino infantil, nas creches e pré-escolas, a partir de quarta-feira (8). A retomada ainda é facultativa. Mas pais que preferirem manter os filhos no ensino remoto devem assinar um termo de responsabilidade na escola, se encarregando de acompanhar as atividades on-line. A medida, no entanto, divide opiniões em meio a uma queda significativa de casos, internações e mortes causadas pela covid-19. Ao mesmo tempo em que se teme uma explosão de casos devido à variante Delta do novo coronavírus.
Para o infectologista do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), Gerson Salvador, embora a pandemia não esteja controlada, as escolas já não devem mais permanecer fechadas. Segundo ele, esses são ambientes que apresentam menor risco de contaminação. “Nesse momento em que as diversas atividades econômicas voltaram, do meu ponto de vista não faz sentido a educação não voltar, principalmente por conta do suporte necessário às famílias trabalhadoras. É claro que sempre têm de ser avaliados riscos e benefícios”, pondera o infectologista.
Porém, Salvador adverte que “é importante que os diversos setores envolvidos, o poder público, as organizações de trabalhadores, acompanhem a segurança, a ventilação dos ambientes, a disponibilidade de pias para higienizar as mãos e a oferta de insumos”. Todas as medidas “para garantir uma estrutura adequada para o retorno das atividades e sempre observando o que está acontecendo com a curva de casos e para onde está indo a pandemia”.
Membro do Movimento Famílias pela Vida – que reúne familiares de estudantes do ensino público paulistano –, Thalita Pires discorda e considera muito preocupante a volta às aulas de 100% dos alunos de do ensino infantil às creches e pré-escolas. De acordo com ela, é mais difícil controlar os protocolos com as crianças, que podem levar a infecção para casa.
“A gente sabe que essa é a faixa etária que menos tem capacidade de cumprir algum tipo de distanciamento físico. Crianças dessa idade estão sempre se tocando, agarrando e brincando. Não tem nenhum tipo de controle. Até porque qualquer tentativa de controle é uma atentado contra a própria infância e à ideia de educação infantil que é uma educação pela brincadeira, algo muito forte na rede municipal de São Paulo”, explica Thalita.
“E com o avanço dessa variante delta, que é mais transmissível e pode ser mais contagiosa para crianças, vemos com muita preocupação (esse retorno). Porque não houve nenhum tipo de adaptação nos prédios para que o ambiente fosse mais seguro. Não houve contratação de pessoal de limpeza, as equipes foram diminuídas desde o ano passado. Então não há pessoas suficientes para manter o protocolo de limpeza que é o mais básico do básico que uma escola poderia ter. As crianças não conseguem usar máscara de maneira efetiva”, elenca.
Professores também discordam
Os profissionais da educação também não concordam com a retomada de 100% das turmas nas escolas, principalmente nas creches e pré-escolas. Eles apontam que os dados da pandemia dentro das instituições seguem graves. No mês de agosto, foram registrados 3,6 mil casos confirmados de covid-19 nas escolas do estado de São Paulo, sendo, 2.873 casos em estudantes. O secretário de trabalhadores da educação do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), Maciel Nascimento, ressalta que os profissionais ainda sofrem com falta de equipamentos de proteção individual. De acordo com ele, a categoria também não foi consultada sobre a medida.
“A secretaria municipal de Educação de São Paulo coloca a cidade em risco a partir de uma decisão unilateral. Não teve discussão com a comunidade escolar. E sem sombra de dúvida o que mais nos preocupa nesse processo é o restabelecimento de 100% do retorno na educação infantil. Todos nós sabemos que não existe paralelo. Não existe possiblidade de cumprimento de protocolos seja de distanciamento, de EPIs, os Equipamentos de Proteção Individual que permitam que essas crianças não sejam infectadas ou infectem os profissionais de educação”, adverte Nascimento.
Já os familiares dos estudantes também estão divididos. Parte dos pais considera que não tem mais condições de manter os filhos em casa. Seja por necessidade de trabalho, seja por avaliar que os pequenos estão sofrendo fora da escola. Outras famílias consideram que a atual situação não permite a retomada das aulas, menos ainda com 100% dos estudantes.
Confira a reportagem completa, todos os destaques e a entrevista com Alderon Costa da Rede Rua, para falar sobre o 27° Grito dos/as Excluídos/as, no áudio acima.
------
O Jornal Brasil Atual Edição da Tarde é uma produção conjunta das rádios Brasil de Fato e Brasil Atual. O programa vai ao ar de segunda a sexta das 17h às 18h30, na frequência da Rádio Brasil Atual na Grande São Paulo (98.9 MHz) e pela Rádio Brasil de Fato (online). Também é possível ouvir pelos aplicativos das emissoras: Brasil de Fato e Rádio Brasil Atual.
Edição: Rede Brasil Atual