Desde a tenra infância ouve-se aquela expressão que nos alerta para o “cuidado em não matar a galinha dos ovos de ouro”, e ao que parece os Chicago Boys de Bolsonaro ou não tiveram infância ou sofrem de surdez seletiva.
Uma análise rápida dos balanços dos Correios em duas décadas mostra que a gigante logística estatal repassou nas duas últimas décadas mais de R$ 9 bilhões ao seu único proprietário, o governo federal.
Esse montante equivale a 73% do seu lucro no período, aproximadamente R$ 12,4 bilhões em valores atualizados pelo IPCA.
Comparado às demais empresas públicas, os Correios são um verdadeiro oásis de rentabilidade quando considerado o retorno sobre o patrimônio líquido: (69,5%), bem a frente de gigantes como a CEF (37%), Banco do Brasil (18,1%), BNDES (16,9%), e Petrobras (13,6%).
Os números poderiam ser ainda maiores considerando o fato de que o governo federal deliberadamente deixa de utilizar a capacidade logística da empresa para contratar operadores privados, cujos contratos superfaturados encontram-se sob investigação como o da VTCLog, exposto na CPI do Senado.
Estima-se que a utilização dos Correios na logística federal teria um potencial de economia de R$ 30 bilhões/ano, isso somente considerando seu papel de agente de integração nacional, entretanto, o mercado de entregas vem se consolidando como um dos mais promissores devido à popularização do e-commerce, uma tendência que veio para ficar.
Totalmente independente do Tesouro, os Correios se mantém com os próprios recursos, sem a necessidade de aportes para manter – com lucro – suas operações nos 5.570 municípios brasileiros, algo que nenhum órgão público consegue.
A exceção a regra ocorreu no ano de 2018 quando recebeu R$ 254 milhões destinados ao aumento de seu capital, uma fração ínfima (2%) se comparado aos dividendos repassados à União no período, nada mal para qualquer investimento financeiro.
O projeto de lei que tramita no Senado após uma passagem cercada de atropelo chega ao absurdo de conceder ao comprador o monopólio das operações a um grupo privado, sem qualquer mecanismo factível de controle.
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Talvez seja esse o motivo das chances precárias de que seja aprovado na casa, onde nas palavras do senador Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, “não é o melhor momento para uma privatização” dos Correios.
Neste cenário, a canja do cardápio dos Chicago boys do Planalto precisará de outro ingrediente.