Retrocessos

Artigo | O golpe diário de Bolsonaro nos direitos humanos

Não há "recuo" no golpismo promovido pelo presidente da República

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Manifestantes pró-Bolsonaro ao lado de cartazes que denunciam os impactos de sua gestão no país. - Felipe Campos Melo

O 7 de setembro, que deveria marcar a união dos brasileiros, foi neste ano uma data de vergonha e o ápice da temporada golpista do presidente Jair Bolsonaro. Em Brasília e em São Paulo, ele ameaçou descumprir ordens judiciais, falou em fechar o STF. Ainda que tenha recuado, o golpismo de Bolsonaro não desapareceu. É diário. Desde que ganhou as eleições, o presidente ataca rotineiramente as instituições e o povo brasileiro. Não bastasse a política econômica do Paulo Guedes, que não gosta de pobre e cujo posto Ipiranga vende gasolina a R$ 7, Bolsonaro tem como parte de seu golpismo cotidiano um assédio constante aos direitos humanos. 

Bolsonaro não gosta de gente. A falta de empatia com os familiares das vítimas da covid e o comportamento criminoso demonstrado na pandemia atestam isso.

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No mês passado, o presidente vetou o PL que proibia o despejo de famílias durante a pandemia. Para Bolsonaro, não importa que famílias estejam desempregadas, se conseguem comprar comida com a inflação que só cresce ou se vão morar na rua. Em cidades como São Paulo é visível o crescimento da população de rua. É gente que perdeu o direito básico da moradia. Interessante notar a reação de setores bolsonaristas aos problemas que eles não conseguem resolver e só fazem aumentar. Há algumas semanas, a deputada Janaína Paschoal criticou o Padre Júlio Lancellotti por distribuir marmitas aos moradores de rua. Na ética bolsonarista, o problema é dar de comer a quem tem fome, mas tudo bem fazer uma política que tira a comida e a casa das pessoas. 

O golpe cotidiano de Bolsonaro é também contra o povo afrodescendente. O presidente acha graça em falas racistas, como a que fez recentemente com o cabelo de um apoiador. Mas não fica na piada. Quando o próprio presidente se refere a um cidadão negro de forma desumanizada, ele dá aval para o racista da esquina. E é assim que a gente vê multiplicar no país os casos de discriminação. Episódios como o de um senhor em Limeira que precisou tirar a roupa em um supermercado para mostrar que não estava roubando. O racismo de Bolsonaro também vira política pública. É só ver no que se transformou a Fundação Palmares, que agora rejeita a história e os símbolos do povo negro. Relatório da Câmara Federal mostrou que o governo interrompeu ou desidratou nove políticas públicas para garantia de direitos da população negra. 

No caso de política para mulheres, em março deste ano o governo brasileiro chocou integrantes da ONU ao não apoiar uma declaração conjunta de mais de 60 países garantido às mulheres o acesso a direitos sexuais e reprodutivos. Ficamos no seleto grupo do contra, apenas com países conhecidos pelo desprezo aos direitos iguais. Também é conhecida a implicância de Bolsonaro com a população LGBT. Talvez isso explique o chamado “apagão” de políticas públicas federais para essa população. Menos de 5% dos R$ 3,3 milhões destinados a políticas LGBT no Ministério de Direitos Humanos foram empenhados em 2020, segundo dados oficiais. 

O desprezo pelas reais necessidades do povo é o mais cruel golpe de Bolsonaro contra a vida dos brasileiros. Isso é muito nítido na sua obsessão para liberar armas de fogo. Só ano passado cresceu quase 100% o número de armas vendidas, segundo o Fórum de Segurança Pública. No país que já perdeu quase 600 mil vidas para a Covid e onde acontecem mais de 50 mil homicídios por ano, o número de mortes só deve aumentar. 

No Brasil do governo que faz apologia às armas e despreza o feijão, o golpismo é sentido todos os dias. E mesmo com toda aspiração a ditador, Bolsonaro não tem base para conseguir dar um golpe militar e ampliar a sua tirania. Nossa missão é defender a vida. E contra essas violações aos direitos humanos e ataques contra o Estado Democrático de Direito que temos de atuar.


Emidio de Souza é deputado estadual (PT) e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Edição: Mauro Ramos