A CPI da Covid aprovou hoje (15) a convocação de Ana Cristina Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, para prestar depoimento. A convocação foi solicitada pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) e provocou protestos dos governistas do colegiado.
Mensagens trocadas entre Ana Cristina e o lobista Marconny Albernaz de Faria, que depôs hoje, mostram que ela encaminhou ao presidente indicações de Marconny para cargos em órgãos do governo. Conforme avançam as investigações sobre crimes cometidos pelo governo Bolsonaro na condução da pandemia de covid-19, crescem as suspeitas de corrupção, prevaricação, tráfico de influência e outros crimes, atingindo também a família do presidente.
O dia de hoje da CPI da Covid foi reservado à oitiva do lobista Marconny Faria, amigo também do filho de Ana Cristina com o presidente, Jair Renan. Marconny é investigado por sua atuação em favor da Precisa Medicamentos em uma compra bilionária de vacinas Covaxin.
Ao final da oitiva, o vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o relator Renan Calheiros (MDB-AL), determinaram que Marconny deixou de ser testemunha no processo, e passou à condição de investigado. O se a negou responder questionamentos e adotou uma postura de descaso com a comissão.
Chegou a afirmar que trabalhou para um senador que teria ajudado em um negócio de 12 milhões de testes de covid-19 com o governo. Questionado sobre qual senador teria facilitado a intermediação, respondeu que “não lembrava”.
“Desejo sorte”
“Esse depoimento enfadonho, impreciso e mentiroso me fazem aceitar diversas sugestões aqui. Eu elevo Marconny à lista dos investigados nesta CPI”, afirmou Renan.
Em mais de um momento durante a oitiva, senadores da CPI da Covid cogitaram a prisão de Marconny pelo abuso das prerrogativas garantidas por um habeas corpus concedido pelo STF.
“A turma que quer fechar o STF e apela à Corte para ficar em silêncio está aqui sentada depondo. Nós aqui não somos assim, seguimos a lei. Advirto Marconny para que não abuse da paciência dessa comissão (…) Sinceramente, Marconny, desejo boa sorte. O senhor vai precisar. Encaminho este depoimento ao Ministério Público por falso testemunho”, concluiu Randolfe, resumindo a irritação provocada pelo comportamento do lobista.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN) insistiu na prisão do depoente por receio de que ele siga cometendo crimes como o de fraude processual. “Fico incomodado de vê-lo sair daqui assim. Esses esquemas ainda estão em vigor, acontecendo à luz do dia. Ontem também tivemos depoimento que confirma isso. Enquanto isso eles estão escondendo provas.”
Falsos patriotas
Prates também fez críticas a parlamentares que seguem na defesa do governo, mesmo diante das evidências apontadas pela CPI.
“Alguns senadores vêm aqui e não estão vendo a CPI. Alguns senadores dizem que não há crime e que o governo evitou crimes. Não estão vendo a CPI. O Presidente da República, ministros, a família do presidente, estão na novela deste processo. Mas aqui, a diferença é que o Senado está agindo. E existem crimes sim. É uma construção que não para aqui”, disse.
Por fim, o parlamentar do PT lembrou que os indícios claros dos crimes de Marconny, um ativista do bolsonarismo, têm relevância especial para a sociedade.
“Que sirva para desmascarar os falsos justiceiros, falsos patriotas que falam em pátria, Deus (…), antipetistas. Vemos o fracasso agora. Ninguém mais acredita em falsos heróis, que usam camisa da CBF. Colocam bandeirinha no carro, defendem essa turma, depois falam que esqueceram tudo”.