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Programa Bem Viver: ‘Paulo Freire sempre foi um revolucionário’, diz viúva do educador

No centenário do patrono da educação brasileira, Nita lembra sua obra e seu legado: “Paulo é um autor utópico”

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Paulo Freire com sua segunda esposa, Nita, em 1988
Paulo Freire com sua segunda esposa, Nita, em 1988 - Arquivo pessoal
Hoje, com tantas crises, temos a necessidade de um mundo onde amar seja possível, como Paulo dizia

O educador Paulo Freire foi um revolucionário e um autor utópico, que soube dialogar com o diferente e ter uma postura crítica e fraterna diante da vida, do trabalho e da família. É a assim que a segunda esposa do pensador, Ana Maria Araújo, mais conhecida como Nita, que viveu com ele até sua morte, lembra Freire. O pensador que revolucionou a educação no Brasil e no mundo completaria 100 anos no próximo domingo (19).

“Paulo sempre foi um revolucionário, sempre criou coisas novas, desde que se pôs homem maduro”, disse Nita, em entrevista ao programa Brasil de Fato Entrevista, repercutida na edição de hoje (17) do Programa Bem Viver. “Paulo nunca desejou o mal a ninguém. Ele dizia que com seus antagônicos não poderia ter diálogo, mas com os diferentes sim. O diferente ensina. Se fossemos todos iguais ou se convivêssemos só com os iguais nada aprenderíamos, nada mudaria. É necessário que a gente tenha o diferente. Isso aumenta a possibilidade de entendimento e de uma nova leitura do mundo.”

:: Paulo Freire 100 anos: patrimônio da Educação no Brasil ::

Paulo Freire é considerado o patrono da educação no Brasil e o autor mais lido da área no mundo, com clássicos como “Pedagogia do Oprimido”, “Educação como Prática da Liberdade” ou “Pedagogia da Autonomia”, consideradas obras fundamentais e acessíveis para entender mais da revolução que o autor propõe para a educação.

Nita e Paulo se conheceram ainda crianças, em Pernambuco, e se reencontraram na faculdade, quando Freire foi orientador do mestrado de Nita na PUC de São Paulo. O casamento só ocorreu em 1988. Antes disso, o professor era casado com Elza Maia Costa de Oliveira, também educadora, que morreu em 1986.

Nita foi companheira de Paulo Freire em um momento muito emblemático da carreira dele. Importantes obras foram publicadas no final dos anos 1980 e no início dos 1990, parte delas com apoio da esposa na estruturação. Na carta de testamento, Freire destinou todo o legado para Nita, deixando para ela o direito de administrar suas obras.

“Não foi uma novidade para mim. Eu sou uma pessoa de muita seriedade e de muita ousadia. As coisas ousadas não me põe medo. Tenho ouvido de pessoas do Brasil e do exterior que estou divulgado fantasticamente obra de Paulo, que é mais lido hoje que quando estava vivo”, disse. “Na época vigorava a desconstrução da utopia e Paulo é um autor utópico. A coisa era pragmática: o que valia para você ser um educador era aprender prática, sem pensar o que estava fazendo, para quem, a favor de quem? Hoje, com tantas crises, temos a necessidade de um mundo mais ameno, onde amar seja possível, como Paulo dizia.”

Reforma agrária na bola de valores

O Finapop, linha de investimento do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) na bolsa de valores para financiar cooperativas da reforma agrária, encerrou a primeira rodada de aplicações na semana passada, captando R$ 17,5 milhões. O montante já está liberado para a produção de alimentos em assentamento da reforma agrária.

A linha de crédito do MST funciona como um investimento comum na bolsa de valores, mas mais simples e mais seguro. A partir de R$ 100 reais qualquer pessoa consegue investir em uma cooperativa. Esse dinheiro volta para o investidor depois de um ano. O pagamento é concluído no sexto ano, com juros de 5,5%.

Um dos pontos mais interessante do projeto é que o investidor sabe exatamente onde você está colocando o seu dinheiro. Toda verba vai para iniciativas voltadas para a alimentação da população, com produções orgânicas que respeitam a natureza.

A segunda rodada de investimentos será anunciada ainda este ano, após da finalização do cronograma.

Adote um Parque

Cinco milhões de hectares de terra que seriam entregues a iniciativa privada pelo governo federal por meio do programa Adote um Parque estão em terras indígenas, o que é ilegal. A avaliação faz parte do relatório “Programa Adote um Parque: Privatização das Áreas Protegidas e Territórios Nacionais”, lançado nesta semana por três organizações socioambientais.

O levantamento aponta que o governo está cometendo uma irregularidade que viola a Constituição, e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

O Adote um Parque foi lançado pelo governo federal em fevereiro de 2021 com o objetivo de terceirizar para empresas privadas o cuidado e a proteção de unidades de conservação no país. A iniciativa foi criticada entre ambientalistas. Seu autor é o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que assumiu o objetivo do governo de passar a boiada e desmontar a fiscalização ambiental do país.


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Edição: Sarah Fernandes