João deixou o chapéu no cabide e, numa distraída dele, o Geraldi foi lá e trocou
Um comerciante chamado Geraldi, de uma cidade do interior paulista, era muito gozador. Estava sempre aprontando.
E resolveu aprontar com um empregado que, com uns 50 anos de idade, fazia os serviços de office-boy da empresa.
Esse sujeito, não me lembro o nome dele, vamos dizer que é João, tinha uma marca registrada: um chapéu de feltro, que usava todas as vezes que tinha que ir pra rua. Chegava de volta, punha o chapéu num cabide e ficava fazendo os serviços internos até ser mandado de novo fazer pagamentos bancários ou qualquer outra coisa.
Um dia o João chegou de chapéu novo, exibindo pra todo mundo. Tinha comprado na véspera. Na primeira saída, colocou o chapéu na cabeça e ficou se olhando no espelho, todo vaidoso.
Quando o João foi ao banheiro, o Geraldi foi lá no cabide e conferiu o número do chapéu: 58.
À tarde, ele foi à loja que vendia chapéus e comprou dois iguaizinhos ao do João, só que um número 57 e outro 59.
Na manhã seguinte, o João chegou, pôs o chapéu no cabide e foi fazer algumas coisas na área interna da empresa, o Geraldi foi lá e trocou o chapéu dele por um menor, número 57.
Em seguida falou ao João: “Olha, precisa pagar essa fatura no banco tal”.
Com a fatura nas mãos, o João foi ao cabide, pegou o chapéu e colocou na cabeça. Estranhou que ele não entrou como deveria, sua cabeça não cabia nele. Mas não falou nada.
Assim que voltou, deixou o chapéu no cabide e, numa distraída dele, o Geraldi foi lá e trocou pelo número 59. E mandou o João sair para uma nova tarefa na rua.
Encafifado com o fato do chapéu não ter entrado na cabeça dele, o João foi lá, pegou o que estava no cabide e pôs o chapéu... que atolou até as orelhas. Aí sim, ficou mais encafifado. Foi fazer o trabalho externo, voltou, colocou o chapéu no cabide... E o Geraldi aprontou com ele mais duas vezes, trocando os chapéus a cada saída.
Por fim, o João chegou no Geraldi e disse com cara de pavor:
- Seu Geraldi, vou ter que faltar no resto da tarde. Vou ao médico.
- Por quê? Perguntou o patrão.
O João fez sinal com as duas mãos abrindo e fechando os braços, como se estivesse tocando uma sanfona, e respondeu:
- A minha cabeça está fazendo assim, encolhendo e crescendo toda hora... Que nem sanfona...
Pois é, ficou conhecido como cabeça sanfona.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Douglas Matos