O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Rio de Janeiro (MST-RJ) recebeu a maior condecoração oferecida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a Medalha Pedro Ernesto, pelos seus 25 anos.
A entrega da honraria foi feita a Marina dos Santos, da direção nacional do MST, no Armazém do Campo, localizado na Lapa, região central da capital fluminense, na última quinta-feira (23).
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Ao receber a medalha em nome do MST, Marina ressaltou a importância da homenagem em um contexto de retrocessos dos direitos da classe trabalhadora, das políticas da reforma agrária, das políticas de fortalecimento da agricultura familiar camponesa e das lutas dos direitos dos indígenas, que são também a luta do movimento no Brasil.
"A homenagem reconhece o MST na essência de seus objetivos desde seu nascedouro em 1984, em nível nacional, mas também se faz nesses 25 anos do MST no estado do Rio, reconhece a ocupação da terra que não cumpre sua função social, que o MST é um movimento que quer recuperar e proteger a água, o meio ambiente e a biodiversidade, que exerce a democracia através da sua forma de organização, faz os pobres participarem da organização e das decisões", afirmou.
Autor da iniciativa na Câmara do Rio de Janeiro, o vereador e historiador Tarcísio Motta (Psol), mais votado nas últimas eleições municipais da capital, disse que a medalha concedida ao MST-RJ é a afirmação pelo desejo de continuidade da luta dos sem-terra "pelos próximos 25 anos e além". Ele lembrou que a luta pela partilha da terra de forma igualitária é uma luta de muitos séculos.
"Na minha formação de militante, sempre vi o MST como o principal movimento da história do Brasil. Ele me ensinou que terra é para produzir alimento saudável. Democratizar a terra é democratizar o poder, e por isso eles têm tanto medo da reforma agrária. Me lembro de ver, na época da universidade, a demonização do MST, como hoje demonizam o movimento feminista, negro, LGBT. Eles têm medo da mudança", afirmou o vereador.
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Paulo Alentejano, professor de geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e membro do MST, ressaltou que o Rio de Janeiro tem 2,3 milhões de hectares de áreas rurais, mas 70% é utilizada como pastagens e apenas 10% está voltada para a agricultura alimentar.
Integrantes do MST participaram de ato de entrega da medalha no Armazém do Campo, na Lapa, região central do Rio / Clarice Green
"Os cariocas conhecem muito pouco o estado do Rio e a luta do MST. Essa lógica de um Rio de Janeiro profundamente urbanizado faz com que muitas vezes não se valorize a luta dos trabalhadores no campo. Mais gente produzindo alimentos é mais gente tendo sua realidade transformada", acrescentou.
Honraria
Membro do Centro de Teatro do Oprimido e fundador da Escola de Teatro Popular (ETP), Geo Britto fez um resgate de histórias que mostram o entrelaçamento entre arte e cultura e a luta pela terra desde os anos 1960. Ele disse que as trajetórias do MST, do diretor e dramaturgo Augusto Boal e de movimentos culturais politizados, como o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE), se confundem.
"Sem o movimento camponês não haveria o Teatro do Oprimido. O MST é uma das principais ferramentas de resistência para a conquista da democracia. Hoje, aqui, não é o MST que recebe a Medalha Pedro Ernesto, é a Medalha Pedro Ernesto que tem a honra de receber o MST", afirmou Geo Britto.
Membro da direção nacional do MST-RJ, Luana Carvalho lembrou das lutas, ocupações e despejos ao longo das duas décadas e meia. Entre as conquistas, ela mencionou os 19 assentamentos, as mais de duas mil famílias assentadas no estado do Rio e as escolas e cooperativas construídas nessa trajetória.
"Continuaremos lutando porque há ainda muito latifúndio no Rio de Janeiro e no Brasil. O MST segue enquanto houver latifúndio e para derrubar essas cercas", disse ela.
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Já João Pedro Stédile complementou, em sua participação por vídeo, que o Brasil vive sua pior crise diante da intensificação da concentração de riqueza nas mãos de poucos, da desigualdade social e dos altos índices de desemprego e das mais de 590 mortes pela covid-19 decorrentes da sequência de negligências do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
"A agricultura aqui tem sido um confronto permanente entre os modelos do capital, um é o latifúndio que invade áreas indígenas e quilombolas e não produz nada, o outro é o agronegócio, que acumula capital, não produz alimentos, mas commodities para exportação com largo uso de agrotóxico. O MST supera essa visão menor por meio da agricultura familiar, do alimento saudável para todos, da reforma agrária camponesa e popular, da distribuição de terra", explicou Stédile.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse