Solidariedade

PR: Catadoras de materiais recicláveis precisam de “um teto” para trabalhar; saiba como ajudar

Campanha “Por um Novo Amanhecer” tem a meta de arrecadar R$ 28 mil para a construção de três barracões, em Curitiba

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Catadoras e catadores enfrentam condições precárias de trabalho, sem amparo de políticas públicas - Foto: Ednubia Ghisi

“O pessoal aqui é tudo humilde, carrinheiro que sai de manhã cedo, pega o carrinho e vai pra rua catar o material. Tem vez que acha, tem vez que não acha. Com sol ou chuva, a gente veste uma capa e vai catar, porque depende dessa renda para comer e dar comida pros filhos”. A realidade descrita pela catadora Juliana da Silva Santos, de 32 anos, é a rotina das mais de 40 pessoas integrantes da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Novo Amanhecer, localizada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Apesar de serem os principais responsáveis pela reciclagem do imenso volume de materiais descartados na capital, as catadoras e os catadores enfrentam condições precárias de trabalho, sem amparo de políticas públicas.

Com a intenção de contribuir com a melhora nas condições de trabalho e da vida dessas famílias, o coletivo União Solidária iniciou a campanha “Por um Novo Amanhecer”. A meta é arrecadar cerca R$ 28 mil necessários para a construção de três barracões, de 511 m² no total. As estruturas vão garantir local coberto para a separação e armazenagem dos recicláveis.

:: Alternativa para driblar a fome: em Fortaleza (CE), catadores realizam trabalho em cooperação ::

A campanha quer mobilizar doações individuais, de sindicatos, entidades, movimentos e pastorais que já fazem parte da União Solidária. O valor total da obra é de R$ 40 mil, no entanto, R$ 12 mil já estão garantidos pela própria associação. Apesar da baixa renda das famílias sócias, a economia é fruto da organização coletiva ao longo dos últimos anos, em busca do sonho de erguer essas novas estruturas.

“Esse barracão pronto vai beneficiar os 40 associados, que já vão trabalhar um pouquinho melhor, já que não vão trabalhar na chuva, no sol. Estamos dando graças a Deus que logo deve sair essa construção”, garante Antonio de Jesus, carrinheiro e presidente da associação.  


Antonio de Jesus, na cozinha comunitária da Associação / Foto: Ednubia Ghisi

A obra vai aliviar uma dura rotina de trabalho, ainda mais desafiadora durante a pandemia da Covid-19. A quantidade de material reduziu, o número de pessoas buscando os recicláveis aumentou, e houve ainda períodos de queda nos preços da sucata e do papelão, o que prejudicou ainda mais a renda das catadoras, como relata Juliana da Silva Santos, que também é integrante da diretoria da associação.

“Como o Brasil está em crise, o trabalho garante o básico pra comer. É a renda pra gente sobreviver”, conta Juliana. Ela é mãe de um filho de quatro anos, e desde os 19 trabalha com reciclagem, junto à família.


Juliana da Silva Santos, vice-presidenta da Associação / Foto: Ednubia Ghisi

Como doar

As doações irão direto para a conta da Associação Novo Amanhecer, que tem mecanismo coletivo de acompanhamento. Podem ser feitas via PIX: CNPJ / 05.685.690/0001-83.

Ou transferência bancária: 

  • Caixa Econômica Federal

  • Agência: 2204

  • Conta corrente PJ: 003

  • Número da Conta: 00000399-8 

Ao longo das próximas semanas, serão divulgados os balanços de quanto está sendo arrecadado.

Campo e cidade em mutirão  

O recurso arrecadado pela campanha vai garantir a compra do material para a construção. Um gasto a menos será com as toras de eucalipto que servirão de pilares para os barracões, doadas por famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do assentamento Contestado, da Lapa. Os caminhões com a madeira chegaram na Associação no início de setembro, e marcaram o início dos mutirões de trabalho.

Já a mão-de-obra é toda voluntária e conta com o reforço de um grupo de camponeses mestres-de-obra do acampamento do MST Maila Sabrina, de Ortigueira. Junto a eles, somam-se os próprios associados e associadas no Novo Amanhecer, militantes da União Solidária e pessoas apoiadoras que moram na região.


Mutirão para descarregar as toras de eucalipto doadas pelo assentamento Contestado / Foto: Ednubia Ghisi

15 anos de gestão coletiva

A Associação de Catadores Novo Amanhecer é um exemplo da força da organização popular dos catadores, com apoio de entidades e militantes voluntários. O coletivo tem 15 anos de história, com conquistas como a ocupação do terreno da associação, a aquisição de balança e prensas, e a estruturação de uma cozinha comunitária.

O feriado de 7 de setembro de 2006 é o marco de fundação do grupo, quando trabalhadores e trabalhadoras da reciclagem ocuparam um terreno abandonado para garantir local de armazenagem e separação do material coletado. O local é a atual sede da associação. "Essa área significa tudo pra nós", resume a vice-presidenta, Juliana da Silva Santos. Das cerca de 40 pessoas que fazem parte da Associação, a maior parte é de mulheres.

A remuneração depende da quantidade de materiais que cada uma consegue reunir por semana. Depois de separado, o material é pesado e prensado, os dados vão para uma ficha de papel, e depois para uma planilha no computador. Os números são confirmados por um militante voluntário que faz os cálculos dos valores a serem pagos a cada trabalhadora.


Edson Sanson, voluntário que contribui com a gestão coletiva da Associação / Foto: Ednubia Ghisi

A gestão é coletiva e transparente, como explica Antonio de Jesus: “A gente tem total transparência. Cada associado também às vezes traz um caderninho, anota para pode ter uma base de quanto vai tirar para poder ir se programando”.

A cozinha comunitária ocupa boa parte da atual estrutura coberta da associação e oferece refeições a R$ 1,50 para os associados, e a R$ 2,50 para familiares. O valor é destinado para o pagamento de uma cozinheira que garante café da manhã, almoço e café da tarde, de segunda a sexta-feira. É a segurança de refeições com qualidade, para quem passa o dia fora de casa, em longas jornadas de trabalho.

A gestão de Rafael Greca (DEM) à frente da prefeitura de Curitiba dificultou ainda mais a vida das famílias carrinheiras. Anteriormente, a Associação recebia cerca de sete toneladas por mês de materiais recolhidos pelos caminhões do “lixo que não é lixo”. A venda deste material garantia o pagamento das despesas coletivas.

Agora, todos os gastos precisam ser custeados pelos próprios catadores. Do valor ganho por cada trabalhador, 10% é destinado ao pagamento das faturas de água e luz, além dos alimentos para a cozinha comunitária - todos itens que sofreram grande alta de preços no último período. Esse valor também garante o pagamento de duas pessoas para a pesagem e a prensa do material.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini