Temos que pensar em ações para que as pessoas convivam com o semiárido com qualidade de vida
A campanha Tenho Sede, lançada na última semana pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), arrecada verba para construir um milhão de cisternas na região do semiárido, que serão usadas tanto para consumo das famílias como para plantação e criação de animais, fortalecendo a soberania alimentar. A ação conta com o apoio de Gilberto Gil e espera a participação de empresas, governos e pessoas físicas, que podem fazer doações em dinheiro pelo site da iniciativa.
“Temos que pensar em ações para que as pessoas possam conviver com as características naturais do semiárido com qualidade de vida”, disse o coordenador da ASA no Ceará, Marcos Jacinto, em entrevista a edição de hoje (30) do Programa Bem Viver. “Existem obras hídricas na região, mas a maioria não está disponível para a população rural. As cisternas são fundamentais para garantir dignidade às pessoas e assegurar o direito humano de acesso à água”.
A ASA Brasil estima que ainda haja 350 mil famílias sem acesso água potável no semiárido. Os interessados em ajudar podem fazer doações pelo site da campanha. Além disso, moradores da Nordeste também podem fazer doações pela fatura de água, acrescendo um valor à conta, a partir de uma parceira feita com governadores da região.
Quem não conhece a ASA Brasil pode achar a meta de construir 1 milhão de cisternas ambiciosa, mas a articulação já atua há 20 anos em diversas frentes na luta por direitos e condição de vida digna ao povo nordestino. A construção de cisternas sempre foi uma das principais ações da organização.
Além da água para beber e para o uso diário das famílias, as cisternas armazenam água das chuvas para a uso na agricultura e pecuária familiar, garantindo o sustento dessas famílias e aquecendo a economia regional.
“Antigamente a realidade do semiárido era as mulheres que andavam quilômetros com lata de água na cabeça par buscar água de açudes. A cisterna quebra essa lógica. A família tem um reservatório acessível diariamente, sem contar que é água da cisterna é de qualidade infinitamente superior que a dos açudes, que é divida com animais”, conta Jacinto. “A partir das cisternas podemos lutar para que essa população tenha acesso a outras políticas públicas”.
Pantanal
Do Nordeste, o Bem Viver vai pra região Centro-Oeste, falar de um estudo divulgado ontem (29) sobre desmatamento no Pantanal: nos últimos 36 anos, 57% do bioma queimou pelo menos uma vez.
O levantado foi feito pelo Mapbiomas, uma coalizão que reúne pesquisadores de universidades, ONGs e empresas de tecnologia para acompanhar a ocupação e uso do solo no Brasil. Segundo a organização, o Pantanal foi o bioma que mais pegou fogo nesse período.
Neste ano, os dados contabilizados até aqui mostram que o bioma não foi tãoo afeitado por incêndios quanto em 2020. Porém, o período de seca ainda não chegou ao fim e ainda não é possível consolidar as análises para 2021.
No ano passado foram registradas as maiores queimadas no bioma. Um estudo divulgado no começo deste mês aponta que 17 milhões de animais morreram por conta do fogo. O levantamento foi realizado por pesquisadores de 14 instituições, entre elas a Embrapa, o ICMBio e as Universidades Federais do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.
Parque Oeste
Passados 16 anos do chamado Massacre do Parque Oeste, uma desocupação violenta de um terreno feita pela pela Polícia Militar de Goiás, a história ganhou um novo capítulo com o lançamento do documentário "Parque Oeste" que traz imagens da época e novos depoimentos de moradores. O longa é conduzido por uma das ocupantes e viúva de uma das vítimas da ação da polícia, Eronilde Nascimento, responsável por levar a denúncia adiante.
Em 2005, cerca de 13 mil pessoas foram alvo de uma ação truculenta da Polícia Militar de Goiás. Próximo à capital goiana, famílias ocupavam um terreno conhecido como Parque Oeste. Por ordem do governador do estado, a polícia iniciou uma ação para retirar à força os moradores e após horas de violência, três pessoas morreram.
Por enquanto, o documentário está disponível online em plataformas pagas. Quem se interessar pode acessar o site da produtora Descoloniza Filmes e conferir a produção, que já foi premiada em festivais nacionais e internacionais.
Gastronomia do Cumbe
No litoral cearense, na Comunidade Quilombola do Cumbe, pelo menos 100 famílias vivem há séculos no encontro do mar, mangue e dunas. Por conta dessa combinação de ecossistemas, a comunidade desenvolveu uma diversidade culinária de dar inveja pra qualquer cheff internacional.
Ostra assada, caranguejada e vatapá de sururu são alguns exemplos de iguarias típicas da comunidade. Tudo isso muito bem acompanhado de frutas e verduras plantadas no terreno do quilombo.
Aos poucos, essa culinária vem recebendo reconhecimento no estado e em iniciativas da sociedade civil. Esse ano, a comunidade foi chamada para participar de um evento sobre cultura alimentar e gastronomia social. Ao mesmo tempo, ela precisa resistir ao avanço de grandes empreendimentos que tentam expulsar as famílias para construir luxuosos condomínios.
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Edição: Sarah Fernandes