Gritos de “Fora Bolsonaro” ecoaram mais uma vez em diversas cidades do país e no exterior. Neste sábado (2), as manifestações reuniram ainda mais partidos políticos, além de movimentos sociais, sindicais e estudantis, que reforçaram o pedido de impeachment do presidente da República, exigindo respeito à vida e à democracia. No Rio Grande do Sul, mais de 40 cidades registraram protestos.
Cartazes, faixas e falas lembraram não apenas do descaso do governo frente à pandemia, que soma quase 600 mil óbitos, muitos dos quais poderiam ser evitados se Bolsonaro tivesse defendido o isolamento, buscado vacinas mais cedo e garantido auxílio emergencial justo. Lembraram também da fome que voltou a assolar as famílias brasileiras, da escalada da inflação, do desemprego, do desmonte dos serviços públicos e das privatizações.
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Ato em Porto Alegre
Na capital gaúcha, a manifestação se concentrou próximo ao Mercado Público, no início da tarde.
Antes da caminhada, representantes de diversos partidos políticos fizeram falas em defesa da unidade pela urgência de tirar Bolsonaro da presidência. Também se manifestaram dirigentes de centrais sindicais.
Durante a concentração, manifestantes da cultura cantaram “Desgoverno”, de Zeca Baleiro. “Morte, luto, tristeza, noite e dia, é preciso calar a negação” e “Um homem sem juízo e sem noção não pode governar esta nação”, dizia trechos da música. O desmonte do Rio Grande do Sul também foi lembrado pelos manifestantes, que estiveram com faixas publicizando o Plebiscito Popular sobre as Privatizações, que ocorre entre 16 e 24 de outubro.
Aos poucos mais gente chegava ao ato, e grupos vieram de outras partes da cidade. Entre eles o de artistas, que estava reunido no Sindicato dos Municipários (Simpa) e realizou intervenções artísticas durante a caminhada. Também veio em marcha até a concentração os militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) que estão tocando a Cozinha Solidária da Azenha.
A caminhada iniciou por volta das 16h20, passando pela rodoviária, túnel da Conceição, em direção ao Largo Zumbi dos Palmares. Segundo estimativa dos organizadores, mais de 80 mil pessoas estiveram presentes.
O Brasil de Fato RS transmitiu ao vivo a manifestação, compondo uma rede de comunicação independente com veículos e entidades de todo o estado. Assista:
Durante o ato, a reportagem conversou com alguns manifestantes. A presidenta da União de Negros para a Igualdade (Unegro-RS), Elis Regina Gomes de Vargas, destacou que apesar da preocupação por conta da ainda alta circulação do coronavírus, os integrantes do movimento decidiram se somar ao ato. “Nós negros e negras somos os primeiros que perdem emprego, que não entram nas estatísticas. Somos aqueles que não têm como ficar em casa, os trabalhos que sobram para nós são aqueles que não podem ser feitos on-line”, expôs, frisando que não dá mais para aceitar um presidente que tem como política de Estado o extermínio.
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Ela também destacou a gravidade dos retrocessos pelo qual passa o país. “Hoje já não se consegue mais comer. Se você pegar a média de salário de negros e negras dessa cidade e você dividir por 30 dias, eles não conseguem dar arroz e feijão para os seus filhos”, ressaltou. “A favela está vindo para a avenida para dizer também fora Bolsonaro. Chega de morrer, chega de morrer pelas esquinas pela mão do Estado, de fome, chega de morrer sem perspectiva e sem futuro nenhum”, completou.
Lúcio Vieira, presidente da ADUFRGS-Sindical, destacou que sua entidade representa os professores federais, que fazem parte da cidadania do país no seu papel de defender o direito das pessoas a uma educação de qualidade. "Esse ato é em defesa da vida, da educação, da saúde, por isso é um ato contra Bolsonaro, pelo seu impeachment, porque ele é o grande responsável pelo número gigantesco de mortes por covid-19 nesse país”, afirmou.
Para o dirigente sindical, é importante que cada vez mais pessoas saiam às ruas. "Que mais partidos políticos, mais agremiações sindicais, mais a sociedade perceba efetivamente que nós estamos sendo dirigidos por uma pessoa que não tem nenhuma qualificação, que se compara aos piores genocidas do mundo. E principalmente que o Parlamento brasileiro e o STF assumam a sua responsabilidade e efetivamente conduzam o país para que Bolsonaro seja retirado do governo imediatamente."
Estudante de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Alessandra Maria destacou que mesmo em meio a uma pandemia os manifestantes estão nas ruas. “Esse ato é muito importante não só por trazer visibilidade para o movimento, mas para dizer que basta”, afirmou.
Alessandra salientou que não é só a covid-19 que está matando as pessoas no Brasil, mas também a insegurança alimentar e a falta de políticas públicas. “Essa falta de direito sobre coisas básicas é muito triste. Comer bem é um direito”, disse.
Pelo Movimento das Mulheres Camponesas, Eliziane de Fátima Jahn ressaltou que milhares de pessoas saíram pelas ruas do país para manifestar seu descontentamento com o governo genocida de Bolsonaro. “Em relação às mulheres não precisamos dizer o quanto ele tem sido prejudicial na retirada de direitos. E a agricultura familiar e camponesa também tem sofrido muito, desde a falta de recursos até a não aprovação do nosso PL para a agricultura familiar e camponesa. As grandes mudanças no Brasil, a conquista de direitos é feita com muita gente organizada e nas ruas, e dessa vez não vai ser diferente”, enfatizou.
“Nosso posicionamento é em defesa da vida e para um projeto de sociedade mais justa, da relação humana, e da humana com a natureza. Nesse momento em que vivemos, de negacionismo, de fascismo, não dá para não levantar a bandeira de defesa da vida. Quem defende a bandeira da vida é Fora Bolsonaro”, complementou Edcleide da Rocha Silva, camponesa do Assentamento Padre Emílio April, de Alagoas.
O policial Aguinaldo Duarte ressaltou que a mobilização do cidadão e a presença dos trabalhadores e trabalhadoras em “uma manifestação tão legítima quanto essa” é uma obrigação. “Nós estamos dentro das instituições policiais, tem quem apoia o atual governo, mas temos um grande número que tem essa cabeça mais progressista, de enxergar os problemas que enfrentamos hoje, na atual política. Nós, além de sermos policiais, temos familiares, a gente vem dessa classe trabalhadora e temos que nos unir”, afirmou.
Frei Sérgio Görgen, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) do RS, ressaltou que o movimento está nas ruas "principalmente pela desgraça da fome, da inflação, do preço alto dos alimentos. Porque (o presidente) não apoia os pequenos agricultores, os camponeses, porque falta comida na mesa do povo". Ele criticou ainda a "desgraça das privatizações, principalmente a privatização da água que não pode acontecer. E o preço exorbitante da gasolina e do óleo diesel". Completou lembrando "a desgraça também de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas na pandemia se não fosse uma política desastrada de condução da saúde do povo. Por isso tudo é necessário voltar um governo popular nesse país”.
Atos no interior do RS
Durante a manhã, o Brasil de Fato RS também esteve ligado nas manifestações que ocorreram pelo estado. Assista a cobertura ao vivo realizada em parceria com veículos independentes e entidades:
Em Pelotas, no Sul do estado, o ato reuniu cerca de 1.500 pessoas durante a manhã no Largo do Mercado Público. Após concentração, os manifestantes saíram em caminhada pelas ruas da cidade.
"Estamos aqui mais uma vez lutando pelos direitos dos povos, o direito do povo à água, à alimentação, à saúde, à vida”, afirmou Raquel Gil de Oliveira, do Sindicato dos Bancários de Pelotas. Ela destacou a realização do Plebiscito Popular, “onde o povo deve dizer ao governo que é contra as privatizações”, e completou lembrando que “é importante que o povo se mobilize”.
O cacique Pedro Salvador, da etnia kaingang, destacou a perseguição do governo Bolsonaro às comunidades indígenas e aos pobres. “É hora de tirar esses ladrões que estão roubando dos pequenos, estão manchando a nossa riqueza, manchando o povo. Tem que botar na cadeia esse Bolsonaro assassino, essa quadrilha que está enriquecendo através dos indígenas, roubando o dinheiro dos pobres, roubando nossa saúde. Ele quer acabar com a educação dos nossos filhos. Vamos tirar isso fora”, bradou.
Em Alvorada, manifestantes se reuniram pela manhã em frente à prefeitura. Presente no ato, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT) se defendeu sobre sua participação tanto no ato convocado pelo MLB quanto no de hoje. "O momento que nós passamos é o mais triste da história do nosso povo e para isso nós precisamos nos unir, pra tirar Bolsonaro e sua cartilha, que aqui é representada sim pelo atual governador, que sucateia o serviço público, que desmantela o nosso magistério, que deixa sucateada as nossas escolas públicas", afirmou.
Em Cruz Alta, manifestantes foram alvejados com ovos. Conforme destacou a vereadora Laura Ajala (PCdoB), tal atitude reforça o desrespeito e o despreparo do bolsonarismo. “Os nossos atos têm um debate de ideias, a defesa de projetos e acima de tudo em defesa da vida. Eles não têm discurso e projeto para defender”, criticou. “Guardem esses ovos e distribuam para as pessoas que estão com dificuldade de comprar comida. É isso que nós estamos defendendo, o povo da comida, da ciência, da educação, da humanidade, do serviço público, da defesa da vida”, concluiu.
Em Caxias do Sul, o ato também aconteceu pela manhã, com concentração na Praça Dante Alighieri. A presidenta do Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv), Silvana Piroli, destacou o desmantelamento do serviço público. “Estamos aqui com os companheiros de diferentes categorias, em defesa da vida, do trabalho, do emprego, contra a PEC 32 que acaba com o serviço público e defendendo um Brasil melhor para todos”, afirmou.
Segundo ela, um Brasil melhor para todos “é um país onde a gente possa ter emprego, onde possamos ter o respeito às nossas diferenças, onde possamos diminuir nossas desigualdades, onde tenhamos um serviço público de qualidade que atenda a necessidade da população”.
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Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko