Temos que ter clareza que enquanto todo mundo não estiver vacinado poderão surgir novas variantes
A vacinação de crianças e adolescentes se tornou uma controvérsia nas últimas semanas, depois que o Ministério da Saúde orientou pela suspensão da vacinação em indivíduos deste grupo sem comorbidades.
Na ocasião, a pasta justificou a interrupção ao defender que o risco de óbitos ou casos mais graves da doença entre adolescentes é considerado baixo. Apesar de ter recuado da decisão, a breve suspensão lançou dúvidas acerca da necessidade da imunização dessa faixa etária.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) publicou uma nota sobre o assunto a fim de esclarecer alguns pontos. Segundo Anaclaudia Gastal Fassa, integrante do Conselho Deliberativo da Abrasco e docente do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), uma vez que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina da Pfizer em pessoas acima de 12 anos, a imunização é “segura e eficaz”.
“É muito importante que todos aqueles, para os quais tem vacina disponível, se vacinem, pois essa vacina vai não só evitar casos leves e graves em adolescentes, embora os casos graves sejam raros eventualmente acontecem, como também têm um efeito coletivo, reduzindo a transmissão da doença”, afirma Fassa.
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Para a Abrasco, a decisão do Ministério da Saúde “prejudica o Programa Nacional de Imunização, ampliando o receio de parte da população que já hesita em se vacinar e dificultando a ampliação de cobertura vacinal”.
Até o momento, foram aplicadas 93.558.913 doses como segunda dose ou dose única, o que corresponde a 43,86% da população, segundo o consórcio de veículos de imprensa. Para atingir a imunidade coletiva considerada suficiente é necessário que pelo menos 70% da população complete a cobertura vacinal.
“Precisamos ter uma alta cobertura vacinal. A gente sabe que com a variante delta, a imunidade coletiva exige uma cobertura vacinal muito alta e, portanto, todos aqueles grupos populacionais para os quais temos vacinas aprovadas precisam estar vacinados”, relembra Fassa.
Terceira dose
Fassa considera ainda que a aplicação da dose de reforço contra a covid-19 em pessoas com 60 anos ou mais e em profissionais da saúde também se tornou uma controvérsia na sociedade. Mas a especialista reforça que a terceira dose “é necessária para os idosos”, uma vez que “se observa uma redução da imunidade conferida pela vacina com o decorrer do tempo”.
“Mas não devemos nos precipitar em relação à definição de terceira dose para outros grupos populacionais. Ainda não temos clareza sobre a necessidade dessa dose de reforço para outros grupos populacionais e nem mesmo sobre a eficácia dessa dose de reforço”, destaca Fassa.
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Ainda que agora não seja necessária a aplicação da dose de reforço em toda a população, é necessário que o governo federal garanta doses para o ano que vem para a aplicação da terceira dose em algum momento.
A Anvisa autorizou um estudo clínico para analisar a necessidade da aplicação extra, entre 11 e 13 meses após a segunda dose, com a vacina do laboratório britânico AstraZeneca, que é produzida no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
“Temos também que prever a compra de vacinas para o ano que vem. É muito importante que a gente tenha capacidade de produção de vacina no país, investindo tanto na Fiocruz quanto no Butantan, em novas vacinas que estão surgindo, para que a gente tenha autonomia para fazer a vacinação da população brasileira”, afirma Fassa, nesse sentido.
Um outro ponto considerado controverso em relação à imunização é a equidade da distribuição de vacinas ao redor do mundo. “Temos que ter clareza que enquanto todo mundo não estiver vacinado poderão surgir novas variantes, que sejam mais transmissíveis, que tenham capacidade de invadir a cobertura das vacinas, então temos que ter uma distribuição solidária, equitativa das vacinas a nível mundial”, afirma.
Edição: Anelize Moreira