A internet assistiu, na última segunda-feira (4), uma pane global no Facebook, WhatsApp e Instagram. A queda dessas redes sociais afetou comunicações de usuários e até negócios de vendedores. Para a advogada especializada em telecomunicações e integrante do Coletivo Intervozes, Flávia Lefèvre, o fato expôs um problema grave no Brasil: o acesso restrito e limitado à internet.
Até às 19h de ontem os aplicativos não carregavam e era impossível atualizar as páginas, postar imagens, enviar ou receber mensagens. Instagram e Facebook começaram a “voltar” pouco depois das 19h. Meia hora depois, o WhatsApp, instável, voltou primeiro nos celulares e, depois, permitindo a sincronização com o Web WhatsApp, em computadores.
A especialista lembra que o acesso à internet já é pouco democrático, devido aos custos cobrados pelas operadoras. Além disso, 85% das classes D e E acessam o mundo virtual por meio de dispositivos móveis, usam planos pré-pagos, com limites de dados, mas com dois únicos acessos ilimitados: Facebook e WhatsApp.
“Esse caso expõe alguns problemas. Infelizmente, boa parte dos consumidores brasileiros acessa a internet por dispositivos móveis e com acesso ilimitado ao Facebook e WhatsApp. Então, num momento como esse, há uma distinção entre acesso à internet e acesso às aplicações de internet. O Facebook tem um poder incrível e criou uma dependência enorme aos usuários brasileiros”, criticou Flávia, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
Facebook e a exclusão digital
Com a falta de acesso livre à toda internet, os usuários possuem a navegação limitada ao Facebook e WhatsApp. O caos nas plataformas das empresas de Mark Zuckerberg pode ter levado também a instabilidades nas operadoras de telefonia e internet, já que foram registradas reclamações também sobre esses serviços. O mesmo em relação ao Telegram, plataforma concorrente do WhatsApp.
De acordo com Flávia, se 70 milhões de brasileiros possuem limitação para navegar na internet, é preciso políticas públicas que ampliem o acesso do consumidor. Caso contrário, o poder dessas empresas ficará ainda maior e aumentando a dependência dos usuários.
“Essas plataformas não são a internet, são empresas que ocupam um espaço público. O nosso modelo de internet aqui é lesivo. A pandemia revelou o fosso digital que existe e como as classes mais baixas têm um acesso à internet desqualificado. Isso está relacionado com o poder dessas plataformas. As grandes empresas de comunicação estão associadas aos Facebook e WhatsApp, isso é um problema gigante”, acrescentou.