As áreas ocupadas pela agricultura na Caatinga se expandiram 1.456% no país no período entre 1985 e 2020, segundo levantamento divulgado nesta quarta-feira (6) pelo MapBiomas. Os pesquisadores apontam aumento de 1,33 milhão de hectares na ocupação da atividade dentro do bioma.
Obtidos por monitoramento via satélite, os dados mostram que Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia correspondem a 64,5% da variação verificada. Juntos, os três estados registraram aumento de 1,094 milhão de hectares.
Segundo o coordenador da equipe de Caatinga do MapBiomas, Washington Franca Rocha, o sistema de monitoramento detecta basicamente a agricultura de grande porte no país, geralmente mais associada ao latifúndio.
:: Programa Brasil de Fato: saiba quais são os impactos da destruição da Caatinga ::
“Podem até ser diversificadas [em termos de produção], mas são grandes áreas. Certamente não são agriculturas familiares ou pequenas propriedades”, observa o pesquisador.
Outro dado chamativo da pesquisa diz respeito ao crescimento vertiginoso da área de pastagens, que registrou salto de 48% entre 1985 e 2020. São 6,5 milhões de hectares a mais nesse intervalo, sendo mais de 4,6 milhões deles nos estados da Bahia, Ceará e Pernambuco.
Em 1985, as pastagens ocupavam 15,6% da Caatinga. Já em 2020, o índice passou a ser de 23,1%. Segundo Rocha, os dados se cruzam ainda com outra dura realidade: a carência de uma política pública voltada para unidades de conservação do bioma.
“Estamos falando de um único bioma exclusivamente brasileiro e que contém uma biodiversidade muito grande e pouco conhecida, então, o que a gente tem é o temor de ocorrer uma exploração descontrolada, não possibilitando a devida proteção de reservas e de manter a integridade do bioma”.
:: Caatinga precisa ser prioridade em agenda ambiental, defende pesquisador ::
Risco de desertificação
Outros números também vieram à tona no levantamento. O risco de desertificação de partes da Caatinga é um dos fatores expressos na pesquisa, segundo a qual 112 municípios do país com situação considerada “grave” ou “muito grave” perdem 0,3 milhões de hectares de vegetação nativa.
A maior parte deles – 0,28 milhões – foi observada em 45 municípios da Paraíba que são tidos como áreas suscetíveis à desertificação (ASD). A Caatinga também registrou, no decurso dos 36 anos avaliados na pesquisa, uma queda de 8,27% na superfície de água e redução de 40% da água natural. Houve ainda perda de 10% de áreas naturais.
“Acende-se, com tudo isso, um sinal amarelo. É preciso uma atenção maior dos órgãos de gestão ambiental, das organizações não governamentais e de todos os setores da sociedade que estão atentos a essas ameaças”, finaliza o coordenador da equipe de Caatinga do MapBiomas.
Edição: Vivian Virissimo