A greve mais longa da história do funcionalismo público em Guarulhos (SP) foi suspensa na tarde desta quinta-feira (14), após 25 dias. O objetivo da mobilização é reverter a extinção da empresa pública Proguaru, especializada em serviços de limpeza urbana, obras de edificações e de infraestrutura.
A Lei 7.879, de dezembro de 2020, autorizou o fechamento da Proguaru alegando que a empresa causaria prejuízos financeiros ao município. A alternativa escolhida pela Prefeitura foi a terceirização dos serviços.
O estudo que baseou essa decisão, contratado pela Prefeitura sem licitação, é questionado pelos grevistas. Dois deles, Eliana Maria de Oliveira e Raul Campos Nascimento, que integram a comissão de trabalhadores da Proguaru, formalizaram um pedido de cassação do prefeito Guti (PSD).
A denúncia aponta, entre outras irregularidades, que o estudo foi “feito às pressas, com resultados previamente induzidos, e sem o mínimo de detalhamento e isenção.”
Ainda de acordo com o documento, dados sobre receitas da Proguaru teriam sido desconsiderados na auditoria, de forma a mostrar uma situação mais grave que a real.
O Brasil de Fato não conseguiu contato com o gabinete do prefeito para comentar o caso.
Próximos passos
O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-SP) considerou o movimento grevista como legal. Os dias não trabalhados até 6 de outubro não serão descontados – os demais dependerão de negociação.
Além de evitar prejuízos aos servidores, a justificativa para suspender a greve é que foi garantido um espaço de diálogo das propostas diretamente com a Prefeitura.
Os grevistas elegeram, nesta quinta, dois representantes para participar das mesas de negociação entre o Sindicato dos Servidores de Guarulhos (Stap) e o poder público. A primeira rodada acontece na sexta-feira (15).
“A lição que a gente tira de tudo isso é que a luta sempre funciona. A gente fez uma luta forte, colocou 2 mil pessoas na rua, e agora suspendemos a greve, não finalizamos”, ressalta Raul Campos Nascimento, representante da comissão de trabalhadores.
A demanda central continua sendo a reversão das demissões e do processo de extinção da Proguaru. Caso isso não seja possível, os trabalhadores buscam melhores condições para todos os servidores que perderam o emprego – mesmo sendo concursados.
Com a greve suspensa, os servidores manterão as atividades de panfletagem e diálogo com vereadores. Eles também estudam convocar uma passeata para sábado (16).
A Proguaru é a maior empregadora da cidade, com quase 5 mil trabalhadores. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 14 milhões de desempregados.
Após oito meses de luta, os trabalhadores de Guarulhos conseguiram levar ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mais de 10 mil assinaturas contra a extinção da empresa, o suficiente para convocar um referendo popular municipal sobre o tema. O processo está sob análise no TRE desde agosto.
Edição: Anelize Moreira