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O apelo do Papa Francisco e a lógica das mudanças climáticas

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"É hora de frear a locomotiva, uma locomotiva descontrolada que está nos levando ao abismo. Ainda estamos em tempo", disse o Papa Francisco - ALBERTO PIZZOLI/AFP
Os donos do dinheiro, protegidos em seus bunkers, desconectarão os vagões da terceira classe

As mudanças climáticas são causadas pelo aumento da temperatura média no planeta. O principal fator é o excesso de dióxido de carbono na atmosfera. É uma poluição gerada pela atividade humana, principalmente a queima de combustíveis fósseis com o objetivo de produzir energia.

Para que a espécie humana prolongue sua permanência na Terra, seria necessário estabelecer um novo jeito de viver: menos consumista, menos desigual, ambientalmente equilibrado e economicamente igualitário.

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A aceleração da vida e o consumo desigual colocou a humanidade diante do seu maior desafio: salvar a própria pele diante das mudanças climáticas.

É possível que não consigamos. A tragédia ambiental não preocupa a maioria de nós, apegados que estamos à avalanche de problemas do dia a dia.

Deuses de prótese

Vivemos na era da tecnologia e da troca de informações à velocidade da luz. Interagimos em “tempo real”. Nos tornamos, em essência, deuses. “Deuses de prótese”, como anteviu Freud em seu Mal-estar na civilização, ao vislumbrar um mundo repleto de “novos e inimagináveis grandes avanços, que aumentarão ainda mais a semelhança do homem com Deus”.

Nessa toada, o capitalismo avançado decretou o nosso domínio pleno e incondicional sobre a natureza. O resultado está aí: queimadas, desmatamento, enchentes, furacões.

Estamos amarrados aos vagões de carga de uma locomotiva multinacional, pilotada por extremistas armados, bem alimentados e ungidos. Extremistas em defesa da “família” e das “pessoas de bem”. A regra básica é consumir ao máximo, depredar ao extremo e não deixar a turba faminta invadir a primeira classe.

Conferência do Clima

Essa mesma alegoria da locomotiva foi usada pelo papa Francisco na sexta-feira (16), durante o IV Encontro Mundial dos Movimentos Sociais. Disse o papa: “Este sistema, com sua lógica implacável de ganância, está escapando a todo domínio humano. É hora de frear a locomotiva, uma locomotiva descontrolada que está nos levando ao abismo. Ainda estamos em tempo.”

Duas semanas antes, Francisco e um grupo de cientistas apelaram por respostas “urgentes e eficazes” diante da “crise ecológica sem precedentes”.

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O apelo aconteceu durante o encontro “Fé e Ciência”, organizado pelo Vaticano como reunião preparatória para a COP-26, a Conferência do Clima das Nações Unidas, que acontecerá no Reino Unido a partir do dia 31 de outubro.

A Conferência do Clima se reúne desde 1995. O ponto em comum é que todas as conferências foram, invariavelmente, frustrantes. Seus relatórios finais apontam a solução para tudo. Na prática, entretanto, nada acontece. Governos e grandes empresas seguem competindo para ver quem é mais cínico.

As mudanças climáticas favorecem a lógica da extrema-direita, a lógica da morte, da exclusão e do extermínio em massa provocado por tragédias ambientais. Tragédias que afetarão, obviamente, os mais pobres.

Os donos do dinheiro, protegidos em seus bunkers, desconectarão os vagões da terceira classe, quando assim for conveniente e necessário. É deles a terra prometida.

*Marques Casara é jornalista especializado em investigação de cadeias produtivas. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Leia outras colunas.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Leandro Melito