Ecoando as disputas que acontecem na Casa Rosada, o Dia da Lealdade Peronista, tradicional data da esquerda da Argentina, foi dividido em dois atos. No domingo (17), setores mais alinhados com a vice-presidenta Cristina Kirchner ocuparam as ruas, enquanto organizações mais próximas do presidente Alberto Fernández se manifestaram nesta segunda-feira (18).
Nesta segunda, a marcha, encabeçada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), levanta demandas de direitos dos trabalhadores e defende o projeto de redução da jornada laboral, impulsionado por setores sindicais. Desde 1929, a jornada legal na Argentina é estabelecida em 48 horas de trabalho semanais.
No domingo, a Praça de Maio foi o palco da mobilização e da celebração do peronismo, movimento político que, hoje, governa a Argentina, apesar de suas discordâncias internas expostas após o último resultado das urnas na eleição primária deste ano. Além da marcha central na capital federal de Buenos Aires, houve mobilizações em todo o país.
Em discurso, a presidenta da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, defendeu que o país não pague sua dívida de US$ 45 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Quero dizer que este ato é o início de uma luta até que consigamos não pagar a dívida. Começamos hoje", disse Hebe, dirigindo-se ao presidente Fernández.
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O empréstimo de cerca de R$ 250 bilhões foi assinado pelo então presidente Mauricio Macri, em 2018.
“Mais da metade dos argentinos estão abaixo da linha da pobreza. 44% do país é pobre. Eles não comem mais do que uma vez por dia. E você quer pagar a dívida? Com que? Estamos cansados de pagar dívidas ”, disse Bonafini.
O Dia da Lealdade Peronista
O Dia da Lealdade Peronista começou após o dia 17 de outubro de 1945, quando o então coronel Juan Domingo Perón discursou para uma Praça de Maio tomada pela população. Como Secretário do Trabalho e Previsão, Perón iniciou um diálogo direto e constante com os trabalhadores.
Sua postura pró-trabalho levou Perón a travar constantes batalhas com a cúpula militar e um contexto em que os bairros populares discutiam política e sobre sua condição de exploração. Assim, os adversários de Perón conseguiram afastá-lo de suas posições e prendê-lo na ilha de Martín García.
Por questões de saúde, no dia 17 de outubro, Perón solicita ser transladado ao Hospital Militar. Quando a população soube da presença do líder na cidade, ocupou as ruas e a Praça de Maio com o lema "queremos Perón". Logo, uma multidão reivindicava a liberdade do coronel.
Com o passar das horas, as mobilizações não se dissipavam: ao contrário, se intensificavam. A própria cúpula do governo viu-se obrigada a entrar em um acordo e permitir que Perón desse um discurso da varanda da Casa Rosada, como única saída para desmobilizar pacificamente a multidão do lado de fora.
Foi o que marcou, finalmente, o Dia da Lealdade Peronista, onde o futuro presidente reforçaria seu compromisso com os trabalhadores em um discurso histórico.
17 de octubre #DiaDeLaLealtad ✌️ pic.twitter.com/mBXKWU8p7h
— Jorge Taiana (@JorgeTaiana) October 17, 2017
"Fui a muitas reuniões de trabalhadores e sempre senti uma enorme satisfação", discursou Perón naquele 17 de outubro. "Mas, a partir de hoje, sentirei um verdadeiro orgulho argentino porque interpreto este movimento coletivo como o renascimento de uma consciência dos trabalhadores, a única coisa que pode fazer uma pátria grande e imortal."
Ao final da jornada, Perón foi liberado.
Edição: Thales Schmidt