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Batizado revolucionário

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Contou que a filha se chamaria Maitê e brinquei, falando que discordava desse nome. Um revolucionário como ele tinha que dar um nome revolucionário à filha - Creative Commons
Krupskaia, ele respondeu. É homenagem a uma mulher revolucionária

Houve um tempo em que eu frequentava tudo quanto é exposição de arte em São Paulo.

Numa dessas, fui convidado para a abertura da exposição de um escultor que não conhecia, Bruno Barbosa.

Compareci e fiquei muito surpreso: eram belíssimas esculturas, grandes, de madeira e ferro, com títulos como nunca tinha visto antes. Ele dava a suas obras nomes como “Viva a Revolução”, “Capitalistas sanguinários”, “Burguesia assassina”... Não me lembro os títulos como eram mesmo, mas eram por aí.

O Bruno era e é um artista excelente, e militante radical.

Ficamos amigos.

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Bom... Anos depois, ele apareceu na minha casa dizendo que ia ter uma filha. A família da Isabela, mulher dele, queria que a menina fosse batizada e ele aceitou, mas só se eu fosse padrinho.

Estranhei. Falei: “Ô, Bruno, não vou fazer esses cursos ridículos pra ser padrinho”. Ele disse que um padre já tinha prometido dar o diploma de padrinho sem eu fazer o curso.

Contou que a filha se chamaria Maitê e brinquei, falando que discordava desse nome. Um revolucionário como ele tinha que dar um nome revolucionário à filha.

Ele pediu uma sugestão de nome e dei: Krupskaia, que foi casada com Lênin, líder da Revolução Russa, e era uma grande revolucionária também.

Ele gostou da brincadeira.

No dia do parto, ele aguardava nervoso na sala de espera, e dali a pouco vieram duas enfermeiras meio com cara de alegres, meio com cara de brabas. Deram a notícia de que nasceu uma menina saudável e linda, e este era o motivo das caras alegres. Agora o lado que não gostaram: a Isabela, mãe da menina, disse que ela ia se chamar Setembrina, já que nasceu em setembro.

Elas ficaram horrorizadas, dizendo que era um absurdo pôr um nome desses na menina.

O Bruno acalmou as enfermeiras: “É brincadeira dela”.

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Aliviadas, elas sorriram e perguntaram como a menina se chamaria de verdade.

“Krupskaia”, ele respondeu. “É homenagem a uma mulher revolucionária”.

Aí sim que elas ficaram brabas, quase loucas.

Pior: o Bruno e a Isabela falaram para a família dela que a filha ia se chamar Krupskaia mesmo. Foi uma encrenca monumental, até revelarem que ela se chamaria Maitê... Mas durante um bom tempo, para nós, era Krupskaia, só que no diminutivo: nós só a chamávamos de Krupinha.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Daniel Lamir