Opção mais tradicional é pastel de angu com umbigo de banana
Uma das histórias conta que duas mulheres escravizadas, Maria Conga e Filó, trabalhavam em uma casa grande na região onde hoje fica o município mineiro de Itabirito.
Para ajudar os outros escravizados que trabalhavam pesado nas minas de ouro e na roça, elas enrolavam pedaços de carne no meio de massinhas de angu e levavam para as senzalas, sem que os senhores vissem.
Assim foi criado o pastel de angu, um bolinho com massa de fubá, que já nasceu baseado na resistência, na cooperação e na solidariedade.
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Em 2010, a iguaria se tornou Patrimônio Imaterial de Itabirito, mantendo vivo não apenas um traço da cultura da cidade, mas também um elo de solidariedade entre as chamadas “mantenedoras”, um grupo de 25 mulheres que se preservam a receita original do pastel de angu. Ela é passada de geração em geração, das mais velhas para as mais novas, que não necessariamente são da mesma família, mas que tem vontade de aprender e ensinar a preparar o quitute.
Os mais vendidos são carne, queijo, umbigo de banana, frango com catupiry, chuchu com bacalhau, torresmo com couve e bacon
Quem aprendeu assim foi a mantenedora Valéria Ferreira Silva, que há 40 anos conhece a receita. “Eu aprendi a fazer o pastel de angu com 14 anos, nas quermesses que acontecem em Itabirito. As senhoras mais velhas faziam, eu ficava ajudando e aprendi com elas”, conta.
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“Teve uma época em que meus filhos eram pequenos e meu marido estava desemprego. Aí eu comecei a fazer o pastel de angu para ter renda. As encomendas foram crescendo e montamos um trailer”, acrescenta Valéria.
Foi muito bom porque passei a ter uma fonte de renda que me ajuda muito
Essa é a história de muitas mantenedoras, que tem no pastel de angu uma importante fonte de renda para a família. Conta a história, inclusive, que a receita se tornou tão popular exatamente porque uma família que passava por necessidades na cidade começou a fazer o pastel para vender. Ele caiu no gosto dos moradores, que hoje tem muito orgulho da receita.
“Comecei a fazer em uma associação de bairro, onde uma dona chamada Efigênia fazia, começou a ensinar e eu aprendi com ela essa iguaria”, conta Nilda Ferreira, que faz pastéis de angu há 26 anos.
“Com essa passagem, comecei a aprender, veio a divulgação, os clientes me procuraram e me incentivam. Foi muito bom porque passei a ter uma fonte de renda que me ajuda muito”, destaca.
O pastel de angu é feito de uma mistura de sal, bicarbonato de sódio, água e polvilho azedo e fubá de moinho d´água. Este ponto é essencial, segundo as mantenedoras: é preciso que o fubá tenha sido moído nos moinhos da região, para ter uma gramatura específica, o que ainda ajuda a movimentar as vendas dos pequenos agricultores.
A receita é trabalhosa, e requer muito conhecimento e prática para chegar ao ponto certo da massa, sem embolar. Depois é hora de abri-la, recheá-la e fritá-la. O mais tradicional é o pastel de angu com umbigo de banana, também chamado de flor ou coração da banana, que também fica delicioso misturado com carne.
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Apesar de a receita ser muito tradicional, cada mantenedora dá seu toque a massa. “Eu gosto de jogar o fubá em pouca água, esse é meu segredo. Ele tem que ficar em um ponto duro, mas com liga.
Para fazer precisa de carinho, deixar o tempo certo cozinhando, ai espalhando o cheio na cozinha…”, conta a mantenedora Conceição de Paula Moreira, que tem 81 anos e há mais de 20 se dedica aos pastéis. “Eu aprendi com uma menina que me ajudava aqui. A mãe dela fazia e criou todos os filhos com pastel de angu. Ela me ensinou a fazer a massa, mas os recheios sou eu que elaboro”.
E haja criatividade. Se a receita da massa é muito tradicional, nos recheios as mantenedoras soltam a imaginação, como Valéria.
“Eu já criei eu vários sabores e tenho alguns premiados. Com tudo o que cai bem a gente vai criando sabores, como camarão, carne, queijo, ora-pro-nóbis, palmito. Os mais vendidos são carne, queijo, umbigo de banana, frango com catupiry, chuchu com bacalhau, torresmo com couve e bacon”.
Em março desde ano a prefeitura de Itabirito ciou a Rota do Pastel de Angu, um circuito gastronômico que interliga as casas das 25 mantenedoras da cidade, para incentivar o potencial gastronômico e turístico da iguaria. Tanto das zonas rurais como urbanas, as residências são identificadas com um azulejo especial.
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A dica é ir com tempo e aproveitar para conversar com as mantenedoras sobre a receita e sobre a história da iguaria. Além de uma boa conversa, o visitante saboreia o verdadeiro pastel de angu, e ainda ajudar a gerar renda para as famílias e a preservar a memória da região e do país.
Edição: Douglas Matos