Nenhuma dessas invenções se comprovou na realidade
Não faz muito tempo, principalmente durante o segundo turno das eleições de 2014, que reelegeu a presidenta Dilma Rousseff, um dos principais ataques da direita brasileira contra os governos do PT era sobre os auxílios e as políticas sociais.
Os bolsonaristas (ainda não denominados dessa forma, mas já fortemente influenciados pelo esquema de gabinete do ódio) miraram em todo e qualquer tipo de bolsa, ancorados na falácia do neoliberalismo e da meritocracia: do sistema de cotas à Lei Rouanet, das bolsas de estudos aos auxílios sociais. E o principal alvo, não por acaso, foi o maior programa de distribuição de renda da história do país: o Bolsa-Família.
A extrema-direita usou toda sorte de artifícios, desde a desqualificação das famílias beneficiadas ("vagabundos sustentados pelo Estado"), a alcunha de "bolsa-esmola", até a acusação mais irracional: a suposição de se tratar de uma medida assistencialista e populista.
Nenhuma dessas invenções se comprovou na realidade.
:: Bolsonaro adia novo auxílio emergencial, oposição critica e sociedade reage ::
Durante a era Lula e Dilma, 36 milhões de pessoas foram retiradas da extrema pobreza; apenas 2,9% de taxa de evasão escolar; e 1,69 milhão de famílias abriram mão do benefício porque não precisavam mais dele.
O programa Bolsa-Família tinha objetivos muito simples e bastante claros: combater a fome, aliviar a pobreza, manter as crianças na escola e garantir a elas a assistência médica básica. Uma política complexa que exigiu anos de aprimoramento e atingiu resultados que transformaram a história do Brasil e das mulheres.
93% dos cartões do programa estão no nome delas, por conta de uma decisão política, permitindo que as mulheres garantissem seus filhos na escola e tivessem condições de optar por sair de situações de violência contra ela e sua família.
Futuro incerto: fim do auxílio emergencial vai deixar milhões em situação de vulnerabilidade
São mais de 20 mil estudos sobre os impactos e os desafios do Bolsa-Família, em diversas perspectivas. No entanto, no mundo paralelo criado pelas fake news do governo Bolsonaro, a verdade simplesmente não importa.
Sete anos depois de intensos ataques, quem se propõe a desmontar uma política de Estado consolidada, sem qualquer respaldo científico, sem estudo de orçamento, para implementar uma medida apressada, despreparada e populista é o próprio presidente.
O mesmo que, no começo da pandemia da covid-19, queria propor o valor de R$ 200 para o auxílio emergencial. E só não logrou, porque lutamos arduamente no Congresso por um valor mais digno e chegamos a R$ 600, com uma proposta inicial de R$ 1.200 apresentado pela bancada do PT na Câmara Federal.
Bolsonaro promove um governo na base do ódio, da morte e da miséria. Nas mãos dele, o desmonte do Bolsa-Família só pode dar lugar a mais uma medida desesperada de quem não tem compromisso com a nação brasileira, enquanto afunda o país no caos econômico, no desemprego, no aumento da conta de luz, do gás, na inflação dos alimentos, e na fome.
:: MST vence prêmio internacional por atuação na garantia de condições dignas para a população ::
Portanto, defender o Bolsa-Família, nesses 18 anos do programa, é defender uma perspectiva de política social, que prioriza o investimento em políticas públicas, que trata a família brasileira como deve ser tratada: com dignidade.
Uma família com criança na escola, acesso à saúde básica, comida no prato, com projetos de geração de renda para fazer a família se reerguer e sair da situação de miséria e pobreza. É defender um projeto de Brasil. De futuro. De esperança.
*Anne Moura é feminista, indígena, manauara e petista. Secretária Nacional de Mulheres do PT. Criadora do Projeto Elas Por Elas. Participa do grupo de mulheres do Foro de São Paulo e da Copppal (Conferência Permanente dos Partidos Políticos da América Latina). Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Leandro Melito