Falta exatamente um mês para as eleições presidenciais no Chile, a indefinição toma conta. Segundo distintas pesquisas de opinião, cerca de 30% dos eleitores ainda não definiu seu voto.
De acordo com a pesquisa divulgada esta semana pela empresa Cadem, os favoritos são o deputado de esquerda Gabriel Boric (Aprovo Dignidade / Frente Ampla) e o advogado de extrema direita José Antonio Kast (Partido Republicano), empatados com 21% da intenção de voto.
Em terceiro lugar com 12% está a única candidata mulher: Yasna Provoste (Novo Pacto Social). Ela é apoiada pelos partidos da chamada Concertação, uma coalizão de partidos políticos chilenos de centro-esquerda. Enquanto Sebastián Sichel (Chile Podemos Mais) tem 7% das intenções de voto.
Já a empresa Criteria coloca Boric na frente com 26% da preferência, seguido de Kast com 17%, em terceiro Sichel com 15%, e Yasna Provoste com 11%.
Um resultado similar foi apontado pela pesquisa do diário El Mercurio e Tu Inlfuyes colocando Gabriel Boric com 22% a 25% das intenções de voto, Kast com 15% a 16%, enquanto Provoste e Sichel estacionam em 11% da preferência.
Caso nenhum candidato obtenha a maioria dos votos, o segundo turno seria realizado no dia 19 de dezembro.
Enquanto isso, o presidente Sebastián Piñera enfrenta uma investigação no Congresso sobre sua relação com empresas em paraísos fiscais. De acordo com uma pesquisa realizada em setembro pelo Centro de Estudos Públicos, o presidente chileno possui 68% de desaprovação.
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Polarização
O clima eleitoral é atravessado pelo processo constituinte chileno. Desde o último fim de semana os chilenos realizam protestos em todo o país para exigir liberdade aos presos políticos das manifestações de outubro de 2019.
"Esse processo eleitoral está sempre tensionado pelo novo momento de mobilização que está tomando conta do país. Há uma reativação da economia e também de distintos setores sociais. Os candidatos portanto também estão pressionados a dar respostas sobre a situação dos últimos dias, como a repressão que houve contra os atos do dia 18 de outubro", analisa a jornalista chilena Marcela Cornejo em entrevista ao Brasil de Fato.
Kast, candidato do Partido Republicano e nome da extrema direita, promete "recuperar a ordem, justiça e paz do país", afirmando que os dois últimos anos que desencadearam na Convenção Constitucional foram um "pesadelo".
Chilenos: no perdamos la esperanza.
— José Antonio Kast Rist 🇨🇱 (@joseantoniokast) October 19, 2021
Frente al caos y la violencia, nuestro compromiso es recuperar el orden, la justicia y la paz. #AtrevetePorChile pic.twitter.com/Qy4SeRTRhB
Kast é um dos promotores do "Fórum de Madri", aliança internacional de partidos de extrema direita, promovida pelo partido espanhol Vox e apoiada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Com uma campanha baseada na herança do ditador Augusto Pinochet, o político do Partido Republicano aumentou sua popularidade nas últimas semanas promovendo ataques xenófobos contra imigrantes venezuelanos no norte do país.
"Diante da queda de Sichel, apresenta-se José Antonio Kast e acaba roubando a intenção de voto dentro da direita", comenta Cornejo.
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Por outro lado, Boric seria o candidato que representa parte dos setores da revolta social chilena pela reforma constitucional, que acaba de completar dois anos. Após vencer as eleições primárias contra o candidato do partido Comunista, Daniel Jadue, Gabriel Boric seria o nome de unidade.
"Boric não é essa figura que firma posições claras, atua mais como um operador político com um discurso do consenso, de unidade com todos os setores", defende Cornejo.
Ya dos años del día en que Chile se cansó de los abusos y abrimos un proceso de cambios que sigue en disputa este año.
— Gabriel Boric Font (@gabrielboric) October 18, 2021
Vamos a ganar, porque la fuerza del pueblo es la unidad, no la violencia. A no soltarnos ni caer en las provocaciones de quienes se niegan a los cambios en paz. pic.twitter.com/kEDMLMUIBq
Entre suas propostas econômicas está uma reforma tributária para criar um royalty mineiro (imposto sobre a extração) e diminuir a evasão fiscal, que hoje equivale a 3,5% do PIB chileno.
"Boric tem um projeto econômico que não se distancia tanto de um projeto neoliberal, mas seria uma ideia de humanizar esse modelo, melhorar alguns aspectos, mas não há um questionamento de fundo. Mais do que apoio à Boric, a esquerda quer evitar a direita no governo", analisa Marcela Cornejo.
Edição: Thales Schmidt