É necessário levar em consideração que cesárea é um procedimento cirúrgico que pode trazer riscos
Um estudo liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz da Bahia (Cidacs/Fiocruz) concluiu que os partos cesáreos estão relacionados ao aumento do risco de mortalidade nos primeiros cinco anos de vida em 25% das crianças, em comparação àquelas que nasceram por parto normal.
Por outro lado, os nascimentos realizados com indicação médica clara para o procedimento cirúrgico foram associados a uma redução do índice de óbitos, o que mostrou a necessidade da cesariana quando indicada por especialistas.
“Cultura cesariana”
Para Enny Paixão, epidemiologista, coautora do estudo e professora assistente da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, os dados observados abrem uma porta para que sejam discutidos quais são os riscos que um procedimento cirúrgico, como o parto cesáreo, pode apresentar.
“O que a gente queria muito alertar com essa pesquisa é que, como qualquer procedimento cirúrgico, a cesariana tem os seus riscos inerentes. E isso é importante de ser ressaltado, porque uma pesquisa, por exemplo, conduzida na Turquia, observou que muitas mulheres acreditavam que um parto cesariano não traz risco e que, na verdade, é benéfico para a criança”, afirma Paixão.
Infelizmente, no Brasil, as taxas de nascimentos por cesáreas estão acima de 15%, que é o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O país está em segundo lugar no ranking das cesarianas, com uma taxa em torno de 90%, quando se trata do setor privado. “Essas cesarianas que acontecem sem uma indicação clínica clara podem estar gerando um aumento da mortalidade na infância em comparação àquelas que nasceram por via vaginal”, afirma a pesquisadora.
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“A gente precisa desmistificar isso e mostrar que existem indicações e, quando elas estão bem colocadas, o parto cesariano é indicado e importante, mas quando não existem indicações claras, a gente precisa levar em consideração que esse é um procedimento cirúrgico que pode trazer riscos.”
Metodologia
O estudo cruzou dados das bases de nascimento e mortalidade de crianças do Ministério da Saúde, registrados entre 2012 e 2018. As descobertas foram publicadas na primeira quinzena de outubro na revista científica internacional PLOS Medicine (EUA), em parceria com a Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Enny Paixão explica que o estudo levou em consideração que alguns nascimentos precisam de fato ocorrer por meio da cesariana. Por isso, utilizou-se a classificação de Robson, que agrupa as mulheres em categorias mutuamente exclusivas, com base em características obstétricas, como idade gestacional e condições de saúde do feto.
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Assim, os nascimentos foram divididos em três grupos. No primeiro, os nascimentos sem indicação médica para cesariana. No segundo, uma comparação entre aquelas mulheres que tinham uma cesariana anterior com aquelas mulheres que repetiram a cesariana no segundo filho ou tentaram por um parto vaginal. Por fim, no terceiro, os nascimentos com indicação médica para cesariana. "Quando comparadas, crianças nascidas por cesariana com aquelas crianças nascidas por parto vaginal, a gente observou um aumento de 25% na mortalidade na infância no grupo das nascidas por cesariana.”
Edição: Vivian Virissimo