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Taís, cadê você?

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Por isso, não admira que Bolsonaro e Guedes agora falem abertamente em privatizar a Petrobras, com o apoio do “nacionalista” Braga Netto - AFP
O sucesso da CPI parece embalar outra, a das Fake News, que deve ser retomada no ano eleitoral

Olá! Enquanto Bolsonaro e Guedes reduzem a economia do país a cinzas, só o mercado dorme tranquilo no Brasil de milhões de famintos. 

.O inimigo agora é outro. A CPI entregou o que prometeu, apesar de alguns nomes escaparem da lista final, e o relatório foi aprovado com facilidade por 7 votos a 4, como era esperado. O que surpreendeu foi a falta de combatividade dos governistas para impedir a aprovação.

Segundo o Relatório Reservado, há semanas a única tarefa do general Pazuello era fazer um relatório paralelo, mas no melhor “padrão Pazuello de competência” não ficou pronto a tempo. Ao que tudo indica, todas as fichas do governo foram colocadas em Augusto Aras. Como recebeu o relatório completo, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deverá dividí-lo, enviando para os MPs e procuradorias estaduais e concentrando-se naqueles casos com foro privilegiado.

O procedimento é correto, mas também deve dar tempo para Aras justificar que não está sentado sobre as denúncias, enquanto decide o que fazer com os acusados do Planalto. Além disso, o governo pode contar com uma surpreendente ajuda do STF, uma vez que alguns ministros consideram o relatório “fraco” para condenar Bolsonaro em todos os crimes.

Da parte do núcleo dos senadores que comandaram a CPI, a estratégia também é dividir as denúncias, enviando-as para os MPs estaduais como forma de pressionar a PGR, além de criarem uma Frente Parlamentar e proporem 17 projetos de lei, o que manterá a pauta do Congresso.

Por fora, ainda que não haja consenso, os senadores trabalham com o plano B de driblar a PGR e encaminhar as denúncias diretamente ao Supremo Tribunal Federal (STF) através da OAB. Além disso, o sucesso desta CPI parece embalar outra, a das Fake News, que deve ser retomada justamente no ano eleitoral.

.O poderoso chefão. A desfaçatez com que André Esteves falou do Brasil como se fosse seu negócio particular impressionaria se não estivéssemos perdidos numa realidade paralela. Dentre outras coisas, o dono do BTG Pactual e da Editora Abril disse que foi consultado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o valor da taxa básica de juros; afirmou que embora prefira o PSDB no governo, Bolsonaro será favorito “se ficar calado”, e que com Lula, Campos Neto ficaria apenas os dois anos restantes do mandato à frente do BC.

Em outros tempos, um vazamento desse tipo levaria à queda do presidente, à demissão da autoridade monetária ou pelo menos a uma CPI. Mas o banqueiro não está sozinho dando a linha no Estado brasileiro. Como mostra a reportagem do Intercept, o empresário Erasmo Carlos Battistella, um dos maiores produtores de biodiesel e amigo pessoal de Bolsonaro, está de olho na Petrobras Biocombustíveis, uma subsidiária da companhia brasileira.

Por isso, não admira que Bolsonaro e Guedes agora falem abertamente em privatizar a Petrobras, com o apoio do “nacionalista” Braga Netto. Aliás, essa proposta é como tentar apagar o incêndio com gasolina, afinal o aumento no preço dos combustíveis deve-se aos interesses dos investidores internacionais e não do Estado.

É verdade que os caminhoneiros resmungaram com mais um aumento do diesel, mas o ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas deixou claro que não está nem aí e provavelmente a greve dos caminhoneiros continuará sendo um fetiche da esquerda que nunca virá.

Mais séria deve ser levada a preparação de greve dos petroleiros para barrar a tentativa de privatização. E agora que fazer arminha na frente da bomba já não funciona, todos se perguntam: "Cadê a Taís, que surtou quando o preço da gasolina chegou a absurdos R$2,80?".

.Empate classifica o mercado. No fim das contas, no imbróglio entre o comitê pela reeleição no Planalto e a equipe econômica, todo mundo recuou. Aparentemente, Guedes deixou de ser o último Chicago Boy e deu o braço a torcer para abrir o cofre, reeleger o chefe e garantir o seu cargo. Mas Bolsonaro e companhia também foram a público avisar que “as contas chegaram ao limite” e não vai haver prorrogação do auxílio emergencial.

O problema é que o governo precisa combinar o plano com 220 milhões de pessoas. Mais do que os efeitos econômicos e o evidente desgaste eleitoral, o maior medo é que a exclusão social leve a uma rebelião das massas, como alerta o insuspeito Michel Temer. E, ainda que o mercado pareça ter se conformado que o teto de gastos vai cair, tudo vai ficando como está.

Graças à incapacidade do governo, a chantagem do centrão - que não quer só o auxílio mas também mais recursos para o fundo eleitoral e para emendas - e principalmente a atuação de Campos Neto, sólida trincheira do ultraliberalismo. Além disso, no meio de toda gritaria, não se percebeu que o novo auxílio está, na verdade, excluindo 18 milhões de pessoas entregues à própria sorte.

Outro sinal de que as contas do governo não estão fechando, são os atritos entre os Ministérios de Ciência e Tecnologia e da Economia. Pressionado pela mobilização da comunidade científica contra o corte de R$ 600 milhões, o ministro Marcos Pontes resolveu defender a ciência, entrando em rota de colisão com Paulo Guedes.

Mas o maior problema de Bolsonaro é que o futuro promete ser ainda pior. Os bancos já falam num cenário de recessão no ano que vem, com elevação dos juros e crescimento negativo de -0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso, como analisa Alon Feuerwerker, a combinação de gastos constitucionalmente engessados, tsunami de recursos destinados a emendas parlamentares, resiliência das corporações político-administrativo-judiciárias e um teto de gastos determinado pela inflação tende a produzir um cenário de completa ingovernabilidade.

.Ele voltará. A absurda associação entre as vacinas e a disseminação da AIDS pode ter sido o sinal de que o Bolsonaro, como ele realmente é, está voltando. Sem nada concreto para oferecer, Bolsonaro deve voltar aos pronunciamentos polêmicos, tentando manter coesa sua base de 20%, diante das deserções internas, inclusive entre evangélicos.

Mas, no lugar dos arroubos golpistas, é provável que o capitão prefira o antipetismo e tente vender a ideia de que com Lula seria ainda pior. Um discurso que inclusive agrada mais à Faria Lima. E, diga-se de passagem, a estratégia já começa a dar resultado, com Bolsonaro ficando no piso e Lula talvez batendo no teto, como aponta a última pesquisa PoderData.

Esse não é o único sinal positivo para Bolsonaro: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) engavetou a ação que poderia cassar a chapa Bolsonaro-Mourão, mas mandou recado que esta é a “última vez”, e talvez para contrabalançar condenou o deputado estadual bolsonarista do Paraná, Fernando Francischini, por fake news nas eleições.

Em outra ponta, os jornalões que defendiam até agora a terceira via, já retomaram os editoriais em que o PT é comparado ao diabo e que talvez Bolsonaro seja a escolha menos difícil. Por outro lado, embora o bloco bolsonarista tenha ganhado reforço da chapa branquíssima TV Jovem Pan, a recente entrevista de Bolsonaro no canal mostra que o fogo amigo também queima e lembra que o calcanhar de Aquiles do capitão são os próprios filhos aloprados.

Mas, mesmo com a situação ruim dos influencers bolsonaristas na Justiça, como Zé Trovão e Allan dos Santos, o estreitamento de laços com o trumpismo continua forte. E com o fim da novela da sua filiação partidária, provavelmente no PP, Bolsonaro ficará à vontade para fazer a única coisa que sabe, a própria campanha de reeleição.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.A CPI da covid em 10 memes: melhores (piores) momentos da investigação no Senado. A redação do Brasil de Fato selecionou os momentos mais icônicos da CPI nas redes.

.“Imperialismo causa inflação”: economista explica alta de preços além dos aspectos monetários. No Brasil de Fato, o economista Leonardo Leite explica os fatores internacionais por trás da elevação dos preços no Brasil.

.Redução da jornada de trabalho e renda básica universal e incondicional. No Instituto Humanitas, Cesar Sanson e José Roque Junges defendem medidas concretas de superação da economia à serviço do lucro e da vantagem.

.Operação Condor: Acusado brasileiro Átila Rohrsetzer . O Brasil de Fato registra a morte do ex-militar que seria o primeiro brasileiro condenado por envolvimento na Operação Condor.

.Economia verde para inglês ver. Na COP26, Bolsonaro muda o discurso e apresenta seu pacote verde, mas a nova embalagem guarda o mesmo conteúdo. Por Bernardo Esteves, na Piauí.

.Uma vida por outra: maternidade, machismo e reprodução social em Maid. No Esquerda Online, Carolina Freitas analisa o seriado Maid e mostra como o lugar da mulher e da mãe aponta para outra possibilidade de produção da vida.

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Ponto é editado por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

Edição: Leandro Melito