Frente aos líderes das maiores economia do mundo, durante reunião do G20, em Roma, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez hoje (30) um discurso que foi na contramão da maioria dos seus posicionamentos públicos durante o enfrentamento da Covid-19 no país. Omitindo informações, o presidente falou sobre vacinação, crescimento econômico e comércio internacional.
Ele celebrou o avanço da imunização no Brasil, mas deixou de lado o fato de que ele mesmo não se vacinou e de o país ser o segundo com mais mortes pela doença no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Na sequência, afirmou que seu governo implanta uma agenda econômica robusta para superar os feitos da crise econômica causada pela pandemia, mas ignorou a alta nos preços, o aumento da inflação, o crescente desemprego e os crescentes índices de famílias em situação de fome.
“O Brasil se comprometeu com um programa extensivo e eficiente de vacinação, em paralelo a uma agenda de auxílio emergencial e preservação do emprego para a proteção dos mais vulneráveis. Estamos igualmente comprometidos com uma agenda de reformas estruturantes, essenciais para uma retomada econômica sustentada”, disse. “Já conseguimos atrair um volume superior a US$ 110 bilhões em investimentos nos setores de infraestrutura e temos a expectativa de alcançar valores ainda superiores até 2022.”
Em seguida, Bolsonaro afirmou que no Brasil, “mais da metade da população nacional já está plenamente imunizada de forma voluntária”. Apesar da fala, em 25 de outubro, Bolsonaro associou o imunizante contra a Covid-19 ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), em uma transmissão ao vivo derrubada pelo Facebook devido às informações falsas. A oposição chegou a protocolar uma notícia-crime contra o presidente, no Supremo Tribunal Federal (STF).
Conversa paralela
Em uma conversa paralela com os líderes do G20, gravada e divulgada em redes sociais de parlamentares, o Bolsonaro defendeu ainda a presença de militares em seu governo, afirmando que “não recebeu indicações” e que “privilegiou as forças armadas”, com "1/3 dos ministros militares". Ele acrescentou que a "Petrobras é um problema”, mas que o governo está “quebrando monopólios” e que até pouco tempo a empresa era “de um partido político”.
As falas receberam duras críticas da oposição. Em sua conta no Twiiter, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), que compartilhou o vídeo, chegou a chamar Bolsonaro de “mentiroso”.
O MENTIROSO: No G20, em rodinha de conversas com líderes, Bolsonaro mente sobre economia e popularidade.
— Paulo Pimenta (@DeputadoFederal) October 30, 2021
A mentira é tão natural para essa nulidade, que nem vermelho fica. #ForaBolsonaro pic.twitter.com/KRkQL3LWBS
O G20 foi criado na década de 1990, mas o encontro de líderes só começou a ocorrer em 2008. Juntas, as nações do G20 representam cerca de 80% da economia global.
Confira abaixo o discurso de Bolsonaro, na íntegra:
Senhoras e senhores líderes do G20,
É uma grande satisfação para mim participar, presencialmente, deste importante encontro de lideranças em um momento de recuperação econômica mundial. Apesar de termos motivos para comemorar, ainda restam desafios para alcançarmos crescimento econômico mais estável e equitativo.
O Brasil se comprometeu com um programa extensivo e eficiente de vacinação, em paralelo a uma agenda de auxílio emergencial e preservação do emprego para a proteção dos mais vulneráveis. Estamos igualmente comprometidos com uma agenda de reformas estruturantes, essenciais para uma retomada econômica sustentada. Já conseguimos atrair um volume superior a US$ 110 bilhões em investimentos nos setores de infraestrutura e temos a expectativa de alcançar valores ainda superiores até 2022.
O histórico acordo concluído pelo G20 e por outros países sobre tributação internacional, no âmbito da OCDE, é também uma contribuição significativa para a sustentabilidade fiscal e econômica.
Os trabalhos do G20 na trilha de finanças renderam resultados importantes para a recuperação da crise econômica, como ilustram a nova alocação de Direitos Especiais de Saque pelo FMI e as medidas para enfrentar desafios relacionados ao meio ambiente e à saúde.
Gradualmente, nossas economias recuperam-se à medida em que a crise sanitária é superada. Esses dois processos de recuperação caminham lado a lado. Ambos têm mostrado a relevância de promovermos um comércio internacional livre de medidas distorcidas e discriminatórias. Eis por que a integração de nossas economias, por meio de fluxos cada vez maiores de comércio e investimentos, constitui parte das soluções que buscamos com vistas à recuperação e ao desenvolvimento sustentável.
No Brasil, mais da metade da população nacional já está plenamente imunizada de forma voluntária. Mais de 94% da população adulta já recebeu pelo menos uma dose da vacina. Ao todo, aplicamos mais de 260 milhões de doses, das quais mais de 140 milhões foram produzidas em território nacional.
Para o Brasil, os esforços do G20 deveriam concentrar-se no combate à atual pandemia, que continua a assolar muitos países.
Entendemos, portanto, caber ao G20 esforços adicionais pela produção de vacinas, medicamentos e tratamentos nos países em desenvolvimento.
Edição: Sarah Fernandes