RETROSPECTIVA

Luis Arce completa 1 ano na presidência da Bolívia: veja um balanço da gestão

Após 12 meses de governo do MAS-IPSP, Bolívia volta a estar entre as nações que mais crescem na América Latina

Brasil de Fato | Caracas (Venezuela) |

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Luis Arce completa um ano de gestão como presidente da Bolívia com 3º maior crescimento econômico da região - Ministério de Governo Bolívia

Nesta segunda-feira (8), Luis Arce completa um ano de gestão como presidente da Bolívia. Após vencer no 1º turno com 55% dos votos um processo eleitoral delicado, postergado em três ocasiões, o representante do Movimento Ao Socialismo conseguiu derrotar o golpe de Estado. 

A volta do MAS-IPSP abriu caminho para investigar os crimes cometidos durante a gestão interina de Jeanine Áñez, quem assumiu o governo após um golpe de Estado contra Evo Morales e Álvaro García Linera, eleitos para o quarto mandato em 2019. Áñez permanece presa acusada de terrorismo, conspiração e sedição, enquanto outros ex-funcionários permanecem foragidos da justiça. 

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Ex-ministros de Áñez teriam planejado um atentado contra Arce para impedir que ele assumisse a presidência. Investigações do Ministério Público e da Polícia Nacional boliviana reveleram áudios trocados entre o ex-ministro de Defesa Luis Fernando López com assessores estadunidenses que teriam enviado paramilitares a La Paz em novembro do ano passado. Alguns dos envolvidos na tentativa de homicídio de Luis Arce também participaram do assassinato do presidente haitiano Jovenel Moise.

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Essa não foi a única ação desestabilizadora do último ano. O governo boliviano denuncia que Luis Fernando Camacho, atual governador do estado de Santa Cruz e protagonista do golpe, buscou animar um lockout - paralisação das atividades - em outubro deste ano com o fim de destituir Luis Arce.


Contra as manifestações opositoras, movimentos populares bolivianos ocuparam as ruas das principais cidades do país no dia 12 de outubro para celebrar o dia da Resistência Indígena / Presidência Bolívia

Primeiras medidas

No início da gestão, a imprensa internacional difundia a ideia de que Arce, ex-ministro de Economia de Morales, seria apenas um porta-voz das vontades do ex-presidente indígena no comando do país. No entanto, já com a composição do gabinete de ministros, Arce buscou se diferenciar das gestões anteriores.

Com um gabinete formado por jovens "produto da revolução", Arce indicou 16 ministros que não haviam chefiado nenhuma pasta nas gestões anteriores do MAS-IPSP, embora tenham participado do governo. "Tecnocrata de esquerda" assim foi caracterizada a equipe de governo por alguns analistas políticos bolivianos.

Tanto Morales, como García Linera ficaram de fora de cargos públicos do novo governo, mas continuam liderando o Movivmento ao Socialismo.

Nos primeiros 100 dias cumpriu com várias promessas de campanha, como o pagamento do Bônus contra a Fome para 4 milhões de bolivianos, no valor de US$ 140 (cerca de R$ 770); a criação de imposto sobre fortunas: uma taxa de 1,4% a 1,9% de imposto de renda a 152 milionários com patrimônio superior a R$ 22 milhões.

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Cerca de 2,2 milhões de estudantes também foram beneficiados com o Bônus Juancito Pinto e pouco mais de 1 milhão de idosos entraram para o programa Renda Dignidade.

O líder do MAS-IPSP finalizou seus primeiros seis meses de gestão com 52% de credibilidade, segundo pesquisa do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag).

Economia 

Após ser peça central do "milagre econômico" boliviano, a partir do Modelo Econômico Social, Comunitário e Produtivo de economia,  que rendeu uma média de 4% de crescimento anual e diminuiu a pobreza pela metade, Arce recebeu um país em crise.

Em apenas 11 meses de gestão, Áñez quase triplicou a dívida interna do país, passando de US$ 2,7 milhões para US$ 8,7 milhões e liderou uma retração de 5,6% do PIB nacional. 

Arce revogou quase todos os decretos em matéria econômica aprovados pela antecessora e reativou seis empresas públicas fechadas durante a gestão interina. O investimento público aumentou 111% no último ano, segundo dados oficiais.

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No primeiro semestre do ano, a Bolívia registrou um índice geral de atividade econômica de 8,7%. Alguns setores tiveram destaque, como a mineração que cresceu 52,4%, construção civil com 32,8% e transporte com 22,6%. Também houve um aumento de 35% de envio de remessas do exterior em 2021.

"Pela primeira vez na história da Bolívia os valores depositados em poupanças públicas subiram 200 bilhões de bolivianos [cerca de R$ 162 bilhões]. Em unidade estamos reativando a economia", celebrou Arce.

O governo boliviano quer continuar os planos de industrialização lítio, mineral essencial para a construção de baterias eletrônicas. Com o Salar Uyuni - maior deserto de sal do mundo - a Bolívia também possui a maior reserva certificada de lítio do planeta com 21 milhões de toneladas.

Durante a COP26, o presidente boliviano apresentou o Plano de Contribuição Nacionalmente Determinada da Bolívia, que prevê neutralizar as emissões de gás carbônico até 2030 e a substituição da matriz energética do país, migrando dos combustíveis fósseis, como o gás natural, para fontes de energia renovável. 

Em outubro, Luis Arce também asssinou uma série de acordos bilaterais com o presidente peruano recém-eleito Pedro Castillo, com o objetivo de desenvolver a agricultura e mineração nos dois países vizinhos.;


Com Arce e Castillo, Bolívia e Peru retomaram gabinete ministerial binacional para cooperação entre os países vizinhos / Presidência Bolívia

Pandemia

A Bolívia conseguiu controlar o avanço do vírus com 62% da população imunizada com pelo menos uma dose, com um total de 7,8 milhões de vacinas aplicadas, segundo o Ministério de Saúde e Esportes. Em outubro o país iniciou a vacinação entre adolescentes de 16 e 17 anos.

O país atravessa uma quarta onda de contágios, por isso também irá estabelecer um protocolo de biossegurança com o Peru para evitar o avanço da transmissão do vírus através das fronteiras terrestres.

Desde março de 2020, a Bolívia acumula 514 mil casos e 18,9 mil falecidos pela covid-19, com uma taxa de letalidade de 2,7%. O Ministério de Saúde também divulgou que até o final de outubro, cinco estados do país haviam executado mais de 50% do orçamento para combater a emergência sanitária e implementar novas estruturas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Com o avanço da imunização e sinais de reaquecimento da economia, a estimativa da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) é de que a Bolívia esteja entre as cinco nações com melhores índices de crescimento para 2021.

Edição: Thales Schmidt