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Escultura pode ir pra prisão?

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Funcionários ligados à ditadura viram a exposição e denunciaram ao Dops, a polícia política da época - Wikimedia Commons
Alguém já viu uma exposição durar um minuto?

Já contei aqui uma história de um amigo escultor, o Bruno, que dava às suas obras nomes revolucionários, contra a exploração capitalista e em defesa de uma revolução libertadora.

Há poucos dias fui à casa dele, e ele me contou que parou de assinar Bruno Barbosa. Certos colecionadores de arte adoram sobrenomes estrangeiros, por isso adotou o sobrenome da mãe, Geiger, de origem alemã, e passou a ser mais valorizado. Multiplicou por três o preço das suas esculturas e fez até exposições na Europa, com grande sucesso.

Dando uma olhada no quintal da casa dele, vi uma enorme escultura de concreto, que reconheci. E conto aqui o que era.

Em 1981, ainda durante a ditadura, o Bruno fez uma exposição no saguão da Assembleia Legislativa de São Paulo que eu achei que devia entrar para o Livro dos Recordes. Durou um minuto. Alguém já viu uma exposição durar um minuto?

É que quando a exposição estava sendo montada, a portas fechadas, uns funcionários da área de segurança, ligados à ditadura, viram e denunciaram ao Dops, a polícia política da época.

Entre as esculturas, belas e fortes, havia uma em que o Bruno retratava uma cena de tortura com choque elétrico num pau-de-arara, em que ele era a vítima, e quem comandava a tortura era Erasmo Dias, secretário da Segurança Pública do Estado.

Outra, a de concreto que falei, pesando 450 quilos, era um cavalo com a cara do então presidente da República, general Figueiredo, e em cima dele um porco com a cara do ministro da Fazenda, Delfim Neto.

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Na hora de abrir a exposição um monte de gente aguardava do lado de fora. Quando abriram a porta, entrou um bando de policiais querendo prender todo mundo, principalmente o escultor.

A porta foi fechada imediatamente e ficou aquela encrenca. No fim, a polícia acabou prendendo “só” as esculturas, coisa absurda. Levaram as esculturas para o Dops, onde ficaram trancafiadas como presas incomunicáveis até que, meses depois, um juiz as “libertou”.

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O Bruno não tinha para onde levar tudo aquilo, e levou pra minha casa. A escultura do porcão com a cara do Delfim em cima do cavalo com a cara do Figueiredo, que não corria o risco de ser roubada porque era pesada demais, foi deixada na porta de casa. Virou atração na rua em que morava, na Vila Madalena.

Sucesso absoluto!

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Vivian Virissimo