A filiação de Jair Bolsonaro ao PL foi suspensa no último domingo (14), após uma briga entre o presidente da República e Valdemar da Costa Neto, líder do partido. Com isso, Bolsonaro seguirá em busca de uma legenda para concorrer às eleições de 2022.
O cientista político Paulo Níccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), afirma que o caso é um exemplo da falta de capacidade de qualquer tipo de união, por parte de Bolsonaro, o que pode até tirá-lo das eleições do ano que vem.
“Ele tem até março do ano que vem para encontrar um partido, caso contrário não poderá participar das eleições. Isso cria um duplo cenário: ele pode atacar a democracia novamente ou não concorrer à eleição. Isso ilustra como Bolsonaro é uma figura patética, isolada e sem capacidade de unir partidos à sua volta. Diante disso, a gente pode ver Sergio Moro ser o candidato de segundo turno contra Lula”, afirmou Níccoli ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.
Bolsonaro e o Centrão
O evento marcado para anunciar a filiação de Bolsonaro ao Partido Liberal, que compõe o centrão, estava marcado para o próximo dia 22. Entretanto, o portal O Antagonista afirma que a suspensão do acordo ocorre após uma troca de insultos entre Costa Neto e Bolsonaro, incluindo um “VTNC você e seus filhos”, escrito pelo líder do PL ao presidente da República.
A conversa teria terminado dessa maneira após Costa Neto negar a proposta de Bolsonaro de colocar seu filho Eduardo Bolsonaro como responsável pela legenda em São Paulo. Para Paulo Níccoli, ao que tudo indica, o PL não será mais o partido de Bolsonaro em 2022.
“Isso é reflexo de seus três anos de governo, marcados pelos desmandos, destruição da imagem do Brasil, 600 mil mortos na pandemia e ameaças contra a democracia. Portanto, os partidos não querem dar carta branca a Bolsonaro”, afirmou o cientista político.
Essa é a nona negociação de Bolsonaro com uma legenda, após a saída do PSL, em 2019. Na avaliação do especialista, é provável que o presidente da República feche com um partido pequeno para chegar à eleição.
“Ele nunca foi um indivíduo de partido. Ele não tem um corpo técnico próprio, diferente de partidos organizados. Ele só é cercado de lunáticos e pessoas ignorantes, que têm como consequência o Brasil de hoje. Caso ele seja candidato, voltará a mostrar novamente a desorganização política e com indivíduos amadores.”
Lula na Europa
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ovacionado, nesta segunda-feira (15), em Bruxelas (Bélgica), após discursar na Conferência de Alto Nível da América Latina, no Parlamento Europeu.
“Lula recebe boas-vindas calorosas, ao contrário de Bolsonaro”, destacou a manchete do site da Bloomberg – que tem uma linha editorial voltada ao mercado financeiro – ao comparar as recepções do ex-presidente Lula e de Jair Bolsonaro durante visita à Europa.
Para o cientista político, a visita de Lula e sua recepção por políticos europeus mostram que o ex-presidente é um verdadeiro estadista, ao contrário de Bolsonaro.
“O Lula está num tour internacional para angariar apoio político. Há duas décadas, ele foi igualmente ovacionado por tirar milhões de pessoas da miséria. Ele é visto como um estadista, respeitado internacionalmente. A viagem dele foi feita para atrair investidores. Mantendo-se Bolsonaro no poder, a tendência é que mais investimentos saiam do país”, afirmou Níccoli.