É possível derrotar a direita golpista, promover o bem-estar social, diminuir a desigualdade econômica, taxar grandes fortunas, distribuir renda. E ainda unir os povos latino-americanos e caribenhos. Essa foi a mensagem do presidente da Bolívia, Luis Arce, em visita à sede da CUT Nacional, em São Paulo, nesta terça-feira (16). A reportagem é de Rosely Rocha, da CUT.
Arce foi recebido pelo presidente da CUT, Sergio Nobre, pelo ex-ministro do Trabalho e Previdência, Luiz Marinho, pelo ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, pelo vereador Eduardo Suplicy (PT-SP). Outros representantes do PT, além do MST, MTST, da UNE, e integrantes da comunidade boliviana em São Paulo participaram do encontro.
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Sergio Nobre lembrou a experiência boliviana contra o golpe de 2019, que impediu Evo Morales de ser reconduzido ao cargo. Mas elegeu o candidato indicado por ele, Luis Arce, em 2020.
Para Nobre, um aprendizado para o Brasil que viu a Operação Lava Jato impedir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser candidato à Presidência da República, nas eleições de 2018. O esquema de parte do Judiciário, totalmente arbitrário, Jair Bolsonaro (ex-PSL) ao poder.
“As mesmas pessoas do sistema financeiro internacional que deram golpe aqui no Brasil, interessadas no petróleo do pré-sal, são as que tentaram dar o golpe na Bolívia, interessadas nas reservas de lítio”, disse Nobre.
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“Aqui Bolsonaro está privatizando aos poucos nossas estatais, que eram fontes de financiamento do serviço público. Ele quer acabar com o serviço público no Brasil. Isso é uma coisa terrível porque o nosso país nunca viveu um momento de crescimento que não tivesse planejamento do Estado”, complementou.
Lula presidente
Para o presidente da CUT Nacional, o que aconteceu na Bolívia que viu Arce vencer no primeiro turno, com 55% dos votos válidos, pode ocorrer no Brasil com Lula, como mostram as pesquisas.
“Se a gente olhar todas as lições de outros países da nossa região verá que sempre foi muito difícil para a esquerda vencer, seja na Venezuela, no Equador, no Peru. E aqui não será diferente”, declarou nobre. “Mas a experiência da Bolívia é muito importante para nós, porque mostra que os golpistas são poderosos, mas não são invencíveis. Vocês venceram lá e nós vamos vencer aqui”, disse ao presidente boliviano.
Elite racista
Luis Arce contou como os socialistas conseguiram derrotar a direita, apesar das perseguições, do apoio da mídia conservadora ao seu adversário, em nome de uma suposta constitucionalidade do golpe em curso. E da elite do país que reascendeu um discurso racista contra os povos indígenas, obrigando-os, muitas vezes, especialmente as mulheres, a não usar o traje tradicional de sua etnia.
“A direita conseguiu o apoio da classe média, incentivando o ódio racial, que é o pior dos insultos, satanizando o socialismo e dizendo que as pesquisas davam empate quando na verdade estávamos 22% à frente”, lembrou o presidente da Bolívia.
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Segundo Arce, o que tornou a situação favorável aos socialistas foi o incentivo ao povo para votar, esclarecendo que se não ganhassem no primeiro turno a direita se uniria em torno de um candidato. Deixaram claro o risco que havia para a retomada da economia, para os investimentos em saúde e educação. Além de fazer a opinião pública entender que a direita conspirou até o último dia. “Um país cresce mais rapidamente quando há mais igualdade para os pobres”, concluiu.
Haddad com Lula no primeiro turno
O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, destacou a importância da união das esquerdas na América Latina. Segundo ele, somente os governos progressistas têm um projeto de integração da região.
“A América Latina não tem chance de sobreviver nesse mundo, sem se integrar”, ressaltou Haddad. “Sempre achei que a nossa integração ocorria de forma muito lenta. Quem sabe depois dessa hecatombe da extrema direita, a gente tome consciência de fazer essa integração mais rapidamente.”
O ex-prefeito se mostrou otimista em relação a um possível terceiro mandato do ex-presidente Lula. Ao ser perguntado se o líder petista já está decidido a ser candidato à Presidência da República, brincou: “a gente decide por ele”.
Para Haddad, é preciso derrotar o fascismo no Brasil, de preferência no primeiro turno das eleições de 2022. “Se o fascismo for para o segundo turno, vai disputar corações e mentes. No que depender de mim, vou lutar para Lula vencer no primeiro turno e dar tranquilidade a ele para governar.”
Papel da classe trabalhadora
Para o ex-ministro do Trabalho e Previdência, Luiz Marinho, a classe trabalhadora tem um importante papel nesta conjuntura, em que a extrema direita está no poder.
“A visita de Luis Arce à CUT é uma sinalização importante de que a resistência tem um papel significante neste processo. E isso passa pela classe trabalhadora e pelos processos eleitorais nas janelas democráticas”, afirmou Marinho. “Ano que vem é uma janela democrática importante para o Brasil e a América Latina. Está em jogo o processo liderado no Brasil, pelo presidente Lula, e em São Paulo liderado por Haddad.”
Segundo Marinho, a eleição do Lula terá um peso muito grande também na América Latina. A sua viagem à Europa, ignorada pela mídia comercial, é uma demonstração desse significado.
“Lula é a esperança do povo brasileiro, de um líder que pensa além das nossas fronteiras junto com outros líderes, que resiste ao fascismo, ao liberalismo. Nossa missão é vencer as eleições para combater a fome”, destacou. “E se combate a fome, além das políticas sociais, gerando emprego de qualidade, o que as reformas trabalhista e da previdência não fizeram.”