O registro de óbitos no Brasil cresceu 14,9% no ano passado, em relação ao anterior, e chegou ao recorde 1.510.068, com 195.965 a mais. Segundo ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi a maior alta desde 1984.
Ao mesmo tempo, o registro de nascimento caiu 4,7%, somando 2.728.273, segundo os dados divulgados pelo instituto nesta quinta-feira (18), com base nos cartórios de registro civil.
O aumento foi bem acima do verificado em 2019, por exemplo (2,7%). Além disso, mais de 99% dessas mortes foram por causas naturais, “classificação que inclui os óbitos decorrentes de doenças, inclusive a covid-19”.
“Houve um crescimento bastante relevante das mortes por causas naturais, o que é condizente com o cenário de uma epidemia”, comenta a gerente da pesquisa, Klívia Brayner. “Por outro lado, o fato de as crianças e adolescentes terem ficado em casa parece ter reduzido expressivamente os óbitos até os 15 anos, talvez pela menor exposição a agentes patógenos em geral ou a riscos de causas externas”, acrescenta.
Alta “fora do comum”
De acordo com o IBGE, o aumento percentual dos óbitos foi maior entre os homens: 16,7%, ante 12,7% das mulheres. A maior parte das mortes (75,8%) foi registrada na faixa a partir dos 60 anos. Entre os habitantes com menos de 20 anos, houve redução. Ainda segundo a estatística, 73,5% dos óbitos ocorreram em hospital e 20,7% em domicílio. E 5,8% em outros locais ou sem declaração.
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“A alta no número de óbitos observada entre 2019 e 2020 foi muito fora do comum quando vemos como foi esse movimento nos anos anteriores”, observa Klívia Brayner.
“Olhando desde 1984, mesmo que as séries mais antigas não sejam comparáveis com as atuais, pois o índice de sub-registro era muito alto, é possível observar que nunca antes tivemos uma variação acima de 7% de um ano para outro. Em geral, o incremento ficava abaixo ou em torno de 3%. De 2010 a 2019, a média de variação foi de 1,8%”, diz a gerente.
Isolamento afeta casamentos
Já o registro de casamentos no Brasil teve redução de 26,1% de 2019 para 2020 (de 1.024.676 para 757.179). Segundo o IBGE, foi a maior queda da série histórica.
“O movimento de queda vem sendo observado, anualmente, desde 2016, mas em 2020 essa variável foi afetada pelo isolamento social em decorrência da pandemia”, informa o instituto.
Dos casamentos registrados, 6.433 ocorreram entre pessoas do mesmo sexo – queda de 29%, a segunda consecutiva, depois de alta de 61,7% em 2018. Conforme as estatísticas, a união entre cônjuges do sexo feminino representaram 60,1% do total.
Os dados coletados pelo IBGE indicam ainda uma “mudança estrutural” na idade em que as mulheres têm filhos.
Em 2000, por exemplo, 76,1% dos registros eram de mães com menos de 30 anos. Esse percentual caiu para 62,1% em 2020. As mães de 30 a 39 anos chegam a 34,2% do total (eram 22% há 20 anos) e as acima de 40, a 3,7%. Mães com menos de 20 anos passaram de 21,6¨% do total para 13,4%.