Mães entraram no mangue em busca dos corpos dos seus meninos mortos pela Polícia Militar do governador Cláudio Castro (PSC) no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro (RJ). Acordamos nesta segunda-feira (22) com imagens dos moradores empilhando corpos e os cobrindo com lençóis brancos ao vivo na TV.
Ao menos nove pessoas foram vítimas de mais uma chacina policial motivada por vingança após a morte do sargento da PM Leandro Rumbelsperger da Silva do 7º BPM (São Gonçalo), na noite de domingo (21).
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Até outubro deste ano, a Rede de Observatórios da Segurança registrou 38 chacinas no Rio de Janeiro (quatro a mais que em 2020) e 27 delas foram cometidas por policiais com 128 mortes registradas.
Ou seja, 71% das chacinas foram executadas por agentes do estado em 2021. Este ano, houve um aumento de 23% (janeiro a outubro) nas mortes em chacinas decorrentes de ação policial no Rio de Janeiro em comparação ao mesmo período do ano passado e 12% de aumento de ocorrências de chacinas em todo o estado.
As características dessas matanças são parecidas.
No Jacaré, acompanhamos a série de mortes com graves indícios de execuções e hoje moradores do Salgueiro relatam que não encontraram armas junto aos corpos e que os mesmos estão desfigurados. Há indícios de que houve tortura.
Operações vingança são banhos de sangue que nunca resolveram os problemas de violência do Rio de Janeiro. Pelo contrário, o estado é marcado por momentos de aumento da violência local e acirramento de tensões após operações vingança. Mortes de suspeitos em escala em resposta à morte de agentes só servem para brutalizar ainda mais as polícias, que continuam sem capacidade de usar inteligência e investigação para desarticular grupos criminais.
Os policiais cheios de ódio e vontade de vingança precisam ser controlados.
Precisam ser retirados das patrulhas nas ruas e não podem ser autorizados a fazer operações em favelas, pois representam um risco para a população, para a polícia como um todo e para si mesmos.
Em busca da reeleição, Cláudio Castro (PSC) tem mantido a política que permite que a polícia entre na favela e deixe corpos no chão. A Rede de observatórios condena mais essa barbárie, manifesta seu repúdio à continuidade e à escalada de letalidade das ações policiais no RJ.
Em plena vigência da determinação do STF de controle das operações policiais na pandemia deixamos o questionamento: é essa a política de segurança pública que Cláudio Castro continuará sustentando? O que o Ministério Público tem a dizer sobre as mortes ocorridas no Complexo do Salgueiro? A Rede também presta solidariedade a todas as mães que choram pelos seus filhos.
*A Rede de Observatórios da Segurança é uma iniciativa de instituições acadêmicas e da sociedade civil da Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo dedicada a acompanhar políticas públicas de segurança, fenômenos de violência e criminalidade nesses estados.
**As opiniões contidas nesse artigo não refletem necessariamente a posição do Brasil de Fato.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse