Moradores do Morro do Palácio, comunidade localizada no bairro Ingá, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, realizaram um protesto na quarta-feira (24) exigindo justiça após a morte do motoboy Elias de Lima Oliveira, 24 anos. Os manifestantes acusam policiais militares de efetuarem os disparos que matou o entregador.
O irmão da vítima, Leonardo Lima de Oliveira, estava na manifestação que parou as principais ruas do bairro. Leonardo estava vestindo um boné com manchas de sangue usado por Elias. Em vídeo gravado durante a manifestação, ele contou o que aconteceu.
“Meu irmão estava saindo para trabalhar, ele fazia entregas pelo IFood, nas lanchonetes, pizzarias. Meu irmão foi enquadrado, infelizmente, porque a boca [de fumo] estava próxima do local onde ele estava passando", explicou Leonardo que ainda detalhou o momento dos disparos.
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"Moradores da comunidade do Palácio falaram que o ‘polícia’ falou ‘volta, volta, volta’ [para os moradores] e meu irmão estava vivo e não estava baleado, entre 30 e 40 segundos [depois] mais ou menos, moradores disseram que escutaram os dois disparos e que [os policiais] chamaram meu irmão ainda de ‘filho da p****’”, desabafou Leonardo, que ressaltou que o seu irmão estava vivo até entrar no carro da polícia.
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Elias foi levado para o Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói, mas chegou sem vida na unidade. A mãe do rapaz, muito conhecida no Palácio, passou mal ao saber da morte do filho e precisou ser levada também à unidade de saúde.
A incursão policial que resultou na morte de Elias também feriu no braço um homem identificado como Heberton Carlos Monteiro, 27 anos. A vítima está internada no HEAL e o estado de saúde dele permanece estável.
Repercussão
A morte de Elias ocorre dois dias após moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, recolherem nove corpos num manguezal no bairro Palmeiras depois de uma operação da Polícia Militar.
A Prefeitura de Niterói divulgou um comunicado afirmando lamentar o ocorrido com Elias e informar que está fornecendo o apoio aos familiares. Na nota, o poder público municipal afirma ainda defender uma “cultura de paz”.
“Niterói prioriza políticas de prevenção e estimula o desenvolvimento de uma cultura de paz através do Pacto Niterói Contra a Violência que conjuga uma série de programas e políticas públicas de apoio à segurança pública, inteligência, mediação de conflitos e formação e geração de renda para jovens”, diz o comunicado.
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A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro informou ao Brasil de Fato que no momento está acompanhando o caso e aguardando o contato da família para que possa tomar as medidas cabíveis.
Posicionamento da PM
À reportagem, a assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar disse que, na tarde de quarta-feira (24), equipes do 12ºBPM (Niterói) foram atacadas enquanto realizavam um patrulhamento em uma das vias que dão acesso ao Morro do Palácio, no Ingá, na Zona Sul do município de Niterói.
Segundo o órgão, a equipe abordava um suspeito quando foi atacada a tiros, gerando um confronto. Após estabilizar a situação, um homem foi encontrado ferido e foi socorrido ao Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL) e não resistiu. A nota ressalta que ainda na ação, um homem foi preso com uma pistola e entorpecentes. A ocorrência foi encaminhada para a 76ª DP.
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Ao Brasil de Fato, a assessoria ressalta que os policiais foram acionados para averiguar uma manifestação que ocorria em frente ao Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL).
De acordo com a PM, no local, a equipe foi informada que um homem ferido por disparo de arma de fogo no braço deu entrada naquela unidade de saúde, após ser socorrido por populares. O ferido permaneceu internado e encontra-se lúcido. A ocorrência foi encaminhada à 78ª DP.
O órgão informa que um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para averiguar as circunstâncias da ocorrência, além das investigações a cargo da Polícia Civil.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Jaqueline Deister