Violência Política

Pesquisa aponta partidos políticos como ambientes hostis às mulheres

Falta de incentivo, ameaças e exclusão foram pontos relatados por mulheres que entraram para a política

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ato simbólico da bancada feminina em prol da aprovação de cotas para mulheres no Congresso
Ato simbólico da bancada feminina em prol da aprovação de cotas para mulheres no Congresso - Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

De 155 mulheres que se candidatam a algum cargo público entrevistadas pela pesquisa Políticas de Saia, do Instituto Justiça de Saias, 121 afirmaram que as promessas de campanha para a candidatura não foram cumpridas pelos partidos políticos. O estudo foi divulgado nesta quinta-feira (25), no Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher.

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O estudo também levantou relatos envolvendo xingamentos, ameaças e ataques sexuais. Em um deles, a entrevistada afirma que um apoiador tentou violentá-la sexualmente. “Mas fiz um registro e ele parou. Me roubou o planejamento de campanha.”

Em outro relato, uma das entrevistadas diz:

“Eu fui atacada severamente por exercer uma chefia num mandato do meu partido da minha cidade, mesmo não sendo filiada ao partido. Estive em muitas situações constrangedoras, fui bombardeada com injúrias e calúnias, perseguida e vigiada incessantemente.”

“Dirigentes do partido colocaram não só a mim, mas outras mulheres como candidatas para preencher a cota de mulheres”, afirmou outra entrevistada.

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“O partido não enviou o percentual do fundo partidário designado para as mulheres, para ajudar as mulheres candidatas, a direção perdeu nomes na chapa por não cumprimento de prazos, uma falta de respeito para conosco”, traz outro relato.

Além das promessas não cumpridas e da violência política, a inserção das mulheres no ambiente político ainda é dificultada pela falta de conhecimento dos trâmites e das regras eleitorais, o que, para o instituto, mostra a falta de capacitação e incentivo para aquelas que estão dentro das siglas.

Das 155 das candidatas, 145 não tiveram nenhuma preparação durante a candidatura e campanha e 125 não receberam apoio partidário e orientação para fazer a prestação de contas.

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A pesquisa foi realizada entre 8 de outubro e 22 de novembro, no formato online, com 1.194 entrevistadas. Apenas 155 delas se candidataram a algum cargo público.

A maior parte delas é do estado de São Paulo (572 respostas, 48,3%), seguido por Minas Gerais (111, 9,4%), Rio de Janeiro (102, 8,6% ), Paraná (63, 5,3%) e Rio Grande do Sul (55, 46%). A maioria tem ensino superior completo (73,7%), filhos (60,5%) e, em média, 42,3 anos.

A maioria das mais de mil mulheres entrevistadas não sabem como funciona a prestação de contas e qual é o prazo para registrar uma candidatura. Do total, 83,2% são favoráveis às cotas para candidaturas femininas e 83,2% para o fundo partidário. 

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Segundo a promotora Gabriela Manssur, presidente do Instituto Justiça de Saias, os dados são importantes para cobrar pelo combate à violência política nesses espaços. “São necessários para pleitear o engajamento dos líderes de partidos e diretórios na eliminação da violência política contra as mulheres”, afirma.

“No Ministério Público de São Paulo sempre tivemos homens na liderança. Mas nós fizemos um trabalho de sensibilização desses líderes, cobrando uma gestão com a perspectiva de gênero. É o que vamos fazer com os partidos, estamos formando um grupo coeso que vai fazer o trabalho de aproximação dos diretórios, com um protocolo e atuação com as mulheres”, afirmou Mansur durante a coletiva de imprensa. 

“Nós vamos fazer esse trabalho não só nos partidos, mas na sociedade no geral, aproximando as mulheres da política. Quero que as mulheres participem do cenario político brasileiro.”

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Das 155 mulheres candidatas, 90,8% concorreram a cargos de vereadora; 11,8% deputada estadual; 3,9% vice-prefeita; 10,5 deputada federal; e 1,3% senadora.

Hoje, apenas uma mulher comanda um estado brasileiro, Fátima Bezerra (PT), no Rio Grande do Norte. No âmbito municipal, apenas 11,8% das cidades são governadas por mulheres.

Segundo dados da União Interparlamentar (UIP), o Brasil está na 142° colocação do ranking de participação de mulheres na política nacional, dentre 192 países.

Na Câmara dos Deputados, dos 513 parlamentares, apenas 77 são mulheres: apenas 15% diante de 52% que a população feminina representa no país. No Senado, dos 81 parlamentares, 12 são mulheres. 

Edição: Leandro Melito