“Cemig, esse trem é nosso” e “soberania é estatal na mão do povo” são algumas das palavras de ordem que vêm dando o tom às mobilizações dos eletricitários de Minas Gerais nos últimos dias. A categoria está em greve desde a segunda-feira (29), denunciando a atual gestão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e reivindicando a garantia de direitos trabalhistas.
Poucas horas após a deflagração da greve, a categoria e movimentos populares ocuparam a sede da empresa pela redução das tarifas energéticas e em solidariedade aos eletricitários. Durante quatro dias e três noites, dezenas de pessoas permaneceram em frente à estatal.
“Não queremos a privatização da Cemig e do setor elétrico brasileiro. Estamos aqui também para denunciar o preço abusivo das tarifas de energia elétrica”, declarou Soniamara Maranho, dirigente da Frente Brasil Popular.
Para Jefferson Silva, secretário geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro), a movimentação é marcante na história das lutas sindicais em Minas Gerais.
“A greve já nasce forte, com uma ocupação, furando a bolha da mídia comercial e reabrindo as negociações com a empresa. A campanha de solidariedade dos movimentos populares nunca antes foi vista na história das greves da categoria. Recebemos apoio também de parlamentares estaduais, federais e de vários municípios”, avalia Jefferson ao Brasil de Fato MG.
Manifestações
Além da ocupação, duas grandes manifestações em Belo Horizonte contra a venda da estatal foram realizadas pela categoria, em unidade com os movimentos populares. Na última terça (30), cerca de mil pessoas caminharam da portaria da Cemig até a Praça 7, na região central da capital. Na ocasião, a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) enfatizou que a privatização da Cemig está na agenda do governo estadual.
“Estamos enfrentando um governo que, para privatizar a Cemig, a Copasa e demais estatais, faz um aparelhamento da empresa. Hoje a Cemig, sua gestão e o dinheiro estão a serviço do Partido Novo”, afirmou a parlamentar.
::Energia elétrica em Minas Gerais: venda da Cemig resulta em conta mais cara e menos qualidade::
Já na manhã de quinta (2), para marcar o encerramento da ocupação, a categoria e os movimentos populares marcharam até a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O ato contou com a presença de parlamentares e lideranças sociais, entre eles o coordenador nacional do Movimento de Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos.
“A luta contra a privatização da Cemig é uma luta do povo mineiro, mas é também uma luta de todo o povo brasileiro”, declarou Boulos.
Próximos passos
Mesmo com a finalização da ocupação na sede da empresa, a categoria segue pressionando pela negociação salarial. “O acampamento encerrou com a transferência da pauta para a ALMG, onde os parlamentares de oposição conseguiram uma reunião junto ao presidente da Cemig, que vai acontecer na segunda (6)”, explicou Jefferson.
Além da interrupção do processo de privatização da estatal, a categoria reivindica negociação justa com a gestão da empresa para renovação do Acordo Coletivo de Trabalho e o afastamento do presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi Filho, até que seja concluída a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Cemig, na ALMG.
CPI da Cemig
Desde 2019, eletricitários denunciam que governo estadual de Minas Gerais tem preparado o caminho para privatizar a Cemig. Em julho deste ano, foi instaurada na ALMG a CPI para investigar denúncias de irregularidades na gestão da empresa durante o mandato de Romeu Zema.
A CPI da Cemig, que tem até fevereiro de 2022 para entregar seu relatório final, identificou que na empresa houve favorecimento de aliados políticos e integrantes do partido do governador; contratações sem licitação; subcontratação, por valor mais caro, de empresa que perdeu licitação, ao invés da que venceu o processo; e espionagens.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
“O governo Zema promove um desmonte generalizado da Cemig. Fecha bases operacionais, desativa usinas termelétricas, desestrutura os processos de trabalho, nomeia seus indicados políticos para cargos nunca antes ocupados por pessoas que não fossem concursadas. Os indicados são pessoas que não gostam dos serviços públicos, são contra o funcionalismo e fortalecem a privatização por dentro da empresa”, declara Jefferson.
Revanchismo e intimidação
A categoria eletricitária também denuncia o clima de intimidação instaurado na empresa durante a gestão do governo Zema. Para Jefferson, o assédio moral e a perseguição aos trabalhadores viraram prática de gestão da empresa.
“Seja na política de provimento ou na política de cargos e carreiras, a gestão mudou critérios para penalizar os trabalhadores. Reduziu o número de trabalhadores contemplados na política de desempenho e penalizou os que tiraram nota baixa”, afirmou.
O sindicalista acredita ainda que a prática da gestão é reflexo das denúncias dos trabalhadores à CPI da Cemig. “Zema sabe que foram os trabalhadores que denunciaram ao sindicato as irregularidades que estão sendo investigadas na CPI. E agora na negociação do Acordo Coletivo de Trabalho, apresenta uma postura revanchista, tentando retirar direitos, desrespeitando o direito à greve e ameaçando os grevistas”, enfatiza Jefferson.
::Leia também: Por que a luz vai ficar ainda mais cara no Brasil?:;
Outro lado
Em nota ao Brasil de Fato MG, a Cemig informa que mais de 92% dos empregados da empresa trabalham normalmente em todas as regiões do estado. “Não há qualquer prejuízo operacional em razão de paralisação”, diz o texto.
A nota ainda diz que a Cemig informou os representantes do Sindieletro que toda e qualquer negociação será feita exclusivamente no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), em razão da “invasão registrada no saguão da sede da companhia”. O texto ainda acusa o Sindieletro de vandalismo durante a ocupação e afirma que foi registrado boletim de ocorrência.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Larissa Costa