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Roberto Carlos ataca novamente

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Todos os anos, vai chegando o Natal e penso: vem aí um novo disco do Roberto Carlos. Faz tempo que é assim - Wikimedia Commons
Os caracóis eram dos cabelos de Caetano, que morria de saudade da Bahia

Todos os anos, vai chegando o Natal e penso: vem aí um novo disco do Roberto Carlos. Faz tempo que é assim.

Eu me lembro dos tempos que viajava pelo Nordeste todos os meses de dezembro e lá, ou já no caminho, tomava contato com as músicas novas dele. Músicas que geralmente não gostava.

Eu tinha um rádio a pilha e só ouvia nele os noticiários. Quando queria ouvir música, era na minha vitrolinha, com discos do meu gosto, então nem sabia que músicas novas o Roberto Carlos tinha lançado.

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Na primeira vez que viajei pelo rio São Francisco, por exemplo, um rapaz que voltava para sua terra levava uma vitrola a pilha e um disco do Roberto Carlos. A música que tocava direto falava das curvas da estrada de Santos.

Outra vez, no próprio rio São Francisco de novo, a música do Roberto Carlos era “Obrigado Senhor”. Eu estava cheio de ouvir aquilo e gritava “obrigado, senhor!” cada vez que acontecia uma coisa que eu não gostava. Umas amigas que viajavam comigo também faziam isso.

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Tinha um casal alemão no barco a vapor, a gente conversava com dificuldade, tendo que usar muitos gestos, porque eles quase não falavam português e nós não falávamos nada de alemão.

Mas fiquei surpreso que o alemão reparava na brincadeira da gente e aprendeu. Uma hora, esbarrou numa garrafa de cerveja, ela caiu e ele gritou com sotaque forte: “Obrrrrigada Senhorrr!”.

Numa viagem de trem de Belo Horizonte a Salvador num dezembro também, uma moça cantarolava sem parar uma coisa que eu achava muito esquisita: “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos...”.

Quando o trem parou na cidade de Monte Azul, no norte de Minas, divisa com a Bahia, na estação um rádio tocava a música do Roberto Carlos. Entendi e murmurei: mais uma chatice do Roberto Carlos.

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Muitos anos depois, Caetano Veloso contou que quando estava exilado em Londres, proibido pela ditadura de voltar ao Brasil, e usava um cabelão enorme, encaracolado, como era moda entre pessoas meio hippies, recebeu a visita de Roberto Carlos e o cantor lhe mostrou a música que fez em sua homenagem e lançaria em dezembro.

Os caracóis eram dos cabelos de Caetano, que morria de saudade da Bahia. Ele disse que chorou ao ouvir. Aí vi sentido nessa música.

Mas continuei não sendo fã do Roberto Carlos.

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Douglas Matos