Os municípios campeões em desmatamento na Amazônia são os menos desenvolvidos da região. É o que revela a 3ª edição do Índice de Progresso Social, o IPS Amazônia 2021, liderado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O estudo analisa as condições sociais e ambientais de países, estados e municípios a partir de variáveis como moradia, saneamento básico e qualidade do meio ambiente.
A Amazônia Legal abrange ao todo 772 municípios. Mas as 20 cidades com as maiores taxas de desmatamento desde 2018 tiveram um IPS médio de 52,38. Um valor 21% menor do que o índice do Brasil, de 63,29. Entre esses municípios, metade deles está localizada no estado do Pará, historicamente líder em desmatamento. É o caso, por exemplo, de Altamira. Ocupando o primeiro lugar no desmatamento no Brasil desde 2009, o município ficou em 11º no ranking, com 52,95 pontos. São Félix do Xingu, o segundo que mais desmatou na Amazônia de 2018 para cá, registrou o 10º pior Índice de Progresso Social, com 52,94. O caso mais negativo foi Pacajá, também no Pará, que somou 44,43 pontos no IPS.
Cofundador do Imazon e autor principal do levantamento, Adalberto Veríssimo avalia que, de forma geral, a Amazônia já vive com “baixo progresso social”. O pesquisador pondera, no entanto, que o cenário piora ainda mais nos municípios onde o desmatamento é alto.
Desmatamento e pobreza, intimamente relacionados
“O desmatamento gera pobreza, perda de florestas gera baixo progresso social. É um atestado de quem conhece a região que o problema mais grave relacionado à pobreza está ligado ao desmatamento”, pontua. “Onde se tem um pouquinho mais de prosperidade na região são as maiores cidades, as capitais, com mais de 200 mil habitantes, porque reúnem os melhores conjuntos de serviços públicos, a educação é um pouco melhor, assim como os serviços de saúde e internet. Isso explica porque as pessoas estão migrando das cidades menores, sejam elas as mais desmatadas ou mais florestadas, em busca das cidades maiores, de progresso social.”
Nessa escala de zero a 100, o IPS Amazônia 2021 ficou em 54,59 pontos, Caso a região fosse um país, de acordo com o estudo, ela ocuparia uma posição semelhante ao Camboja, que ocupa o 40º pior lugar entre os 168 países do ranking global do IPS. Veríssimo alerta que há uma “tempestade perfeita de três problemas” na Amazônia “que impedem seu progresso social”.
“Temos a degradação pelo desmatamento e a situação ambiental tem se agravado”, explica. “Esse padrão acaba afugentando investimentos que poderiam abrir negócios na Amazônia de boa qualidade. E o mais grave é o fato de que a região também está ficando para trás no progresso social.”
IPS desmente o ministro na COP
Os resultados do IPS Amazônia 2021 também contradizem as falas do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. No último mês, durante a 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP26, o chefe da pasta afirmou que “onde existe muita floresta, existe muita pobreza”. A declaração veio acompanhada da afirmação de que “o futuro verde já começou no Brasil”, o que os dados Imazon desmentem.
“O desmatamento não compensa”, destaca o pesquisador. “A gente já sabia que não compensava do ponto de vista econômico e obviamente do ponto de vista ambiental. Mas também não compensa do ponto de vista social. Dos 20 municípios que mais desmatam na Amazônia nos últimos três anos, por exemplo, 18 dos 20 têm índices de progresso social entre os piores da Amazônia, estão no final da fila”, adverte.
“Precisamos acabar com o ciclo de desmatamento e melhorar bastante a situação social e a economia. Essas coisas andam juntas. Se você não reduz o desmatamento, não traz bons investimentos. E sem investimentos, não cria condições para o capital humano florescer e para a situação social melhorar. Essas três coisas têm que acontecer, mas o passo inicial e mais importante é controlar o desmatamento e depois acabar com ele, reduzir de tal maneira que vire um fenômeno residual”, conclui Adalberto Veríssimo.
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Edição: Rede Brasil Atual