Em 2020, o Brasil bateu recorde em letalidade policial com 6.416 pessoas mortas pela polícia no país, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Entre elas, 78,9% são homens negros com até 39 anos. Em Pernambuco, foram 113 mortes, dos quais apenas quatro não eram negros.
Entre essas mortes está a de Deyvison Fernando da Silva, filho de Verônica Silva. Ele foi confundido e morto a tiros por policiais em 2020 junto com o tio Marcone José da Silva.
Verônica Silva espera há um ano uma decisão da Justiça: "A gente quer só uma resposta, principalmente do Estado, porque faz um ano já do caso e nada de respostas. Eu não tenho nem palavras para falar sobre meu filho, porque era um bom menino, um menino amoroso, um menino carinhoso, um menino que tinha 19 anos”, lamenta.
:: Letalidade policial bate recorde e mortes de negros chegam a 78% do total, mostra relatório ::
Este é um dos casos abordados pelo documentário “Quando a Morte Veste Farda”, que retoma quatro casos emblemáticos de letalidade policial acompanhados pelo Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e produzido em parceria com a Marco Zero Conteúdo.
Maria Clara D’ávila, da Assessoria Jurídica do Gajop destaca que os quatro casos estavam parados na justiça, alguns desde 2013. “Esses quatro casos carregam essa sensação de impunidade, porque as famílias não tem resposta. Se tivesse ao menos algum encaminhamento mais ágil dos processos... A gente sabe que os processos demoram de fato a serem julgados, mas não tanto”, conta.
Para as famílias, a divulgação desses casos é essencial para que a mobilização em torno da justiça aconteça. É o que sente Verônica, que afirma que o documentário pode ajudar a tirar os casos da situação de impunidade. “Eu penso muito sobre esse caso, porque espero que ajude. quanto mais a gente tiver a mídia em cima, ajuda mais. Se a gente não fizer nenhuma mobilização, vai ficar do mesmo jeito.”
O lançamento do documentário faz parte das homenagens aos 40 anos de atuação do Gajop em defesa e promoção dos direitos humanos. Maria Clara explica que para além da responsabilização individual, a ação do Gajop busca incidir na estrutura de segurança pública do estado.
“É importante a gente dar esse apoio, inclusive jurídico, às famílias na luta pela responsabilização individual dos policiais envolvidos, mas é importante também a gente chamar atenção para a estrutura em torno disso. Seja do próprio Poder Judiciário que legitima essas operações policiais, que legitima essas mortes, que legitima todo um sistema de políticas de drogas, de pensar policiamento ostensivo, que é o que acarreta nessas mortes”, ressalta.
Leia também: Rio de Janeiro tem 15 das 50 cidades brasileiras em que a polícia mais matou em 2020
Após o lançamento do documentário, uma série de conteúdos exclusivos sobre o tema, entre entrevistas e matérias inéditas, estará disponível ainda neste mês de dezembro no site oficial do documentário.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga