Eleição no Chile

Gabriel Boric, eleito com maior votação da história, inicia transição nesta segunda (20)

Com 55,8% dos votos, Boric é o presidente eleito mais jovem da história chilena; posse ocorre em março

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Gabriel Boric foi eleito com a maior votação da história do Chile e se tornará presidente mais jovem do país - Martin Bernetti /AFP

Gabriel Boric foi eleito com a maior votação da história do Chile, 4.620.671 votos, e aos 35 anos torna-se o presidente mais jovem da história do país. O resultado contundente não pode ser ocultado sequer pela imprensa tradicional chilena, que amanheceu nesta segunda (20) com manchetes que falam na consolidação de uma "revolução" nas urnas, fazendo referência à relação de Boric com o processo constituinte em curso. 

A votação do último domingo também surpreendeu ao superar em participação o plebiscito popular pela constituinte, com um total de 8.364.534 votos, cerca de 55% do eleitorado. 

A presidenta da Convenção Constitucional do Chile, a líder mapuche Elisa Loncon, celebrou a vitória dizendo "em conjunto, o caminho para a Nova Constitituição se abre com dignidade, justiça, ternura, plurinacionalidade e respeito às nossas diferenças".

No seu primeiro discurso após a confirmação da vitória, o ex-deputado pela região de Magallanes iniciou sua saudação em língua mapuche e agradeceu os apoios de ex-candidatos, assim como o gesto de reconhecimento da derrota de seu oponente, José Antonio Kast, afirmando que irá criar "pontes de trabalho" para tornar-se um presidente de "todas e todos chilenos".

"Sou herdeiro de uma longa trajetória histórica. No nosso governo o povo entrará a La Moneda [sede do governo]. Vai ser um governo com os pés na rua, no qual as decisões não se tomarão em quatro paredes, mas em conjunto com as pessoas", declarou o mandatário recém eleito.


Principais ruas da capital Santiago de Chile foram tomadas por uma festa popular após vitória de Gabriel Boric / Javier Torres /AFP

Ainda no domingo, o candidato de extrema direita, José Antonio Kast, também reconheceu o resultado e afirmou que buscará uma colaboração construtiva. A Frente Social Cristã, União Democrática Independente e o partido Renovação Nacional já anunciaram que irão iniciar diálogo para formar uma plataforma opositora no Congresso. A direita obteve 84 do total de 155 deputados e metade das 50 cadeiras do Senado.

Nesta segunda-feira (20), às 14h (hora local) Boric irá reunir-se com o atual chefe de Estado, Sebastián Piñera, para instalar mesas de transição de gestão. A posse do novo presidente acontecerá no dia 11 de março de 2022. "Todos esperamos que faça um ótimo governo", declarou Piñera ao felicitar seu sucessor.

Em 2017, Sebastián Piñera havia batido o recorde de votação com 3.790.397 votos no segundo turno. Agora deixa o governo com 68% de desaprovação popular, segundo levantamento do Centro de Estudos Públicos (CEP).

Nos próximos dois meses, Gabriel Boric deverá anunciar sua equipe de governo. Durante as eleições o candidato progressista havia se comprometido a manter a paridade de gênero em seu gabinete, seguindo os passos da ex-presidenta Michelle Bachelet.


Povo chileno celebrou nas ruas vitória sobre candidato considerado "Bolsonaro chileno" com cartazes "não mais ditadura" / Mauro Pimentel / AFP

Repercussão internacional 

Além do reconhecimento nacional, também houve felicitações de líderes políticos da América Latina e do mundo. Uma das expectativas para o novo governo é uma política exterior que fortaleça o multilateralismo e priorize melhores relações com os vizinhos latino-americanos.

O ex-presidente Lula da Silva celebrou "Fico feliz por mais uma vitória de um candidato democrata e progressista na nossa América Latina, para a construção de um futuro melhor para todos."

O argentino Alberto Fernández também comentou: "devemos assumir o compromisso de fortalecer os laços de irmandade que unem nossos países, trabalhar unidos para a região e acabar com a desigualdade na América Latina".

O uruguaio Luis Lacalle Pou desejou êxitos ao povo chileno e ao presidente eleito. O panamenho Nito Cortizo disse "esperamos seguir trabalhando juntos pelo desenvolvimento das nossas nações".

Já o presidente da Venezuela Nicolás Maduro publicou: "saúdo o povo de Salvador Allende e de Victor Jara por sua contundente vitória sobre o fascismo". Enquanto o cubano Miguel Díaz Canel reiterou sua "vontade de ampliar as relações bilaterais e de cooperação com o governo e povo do Chile".

O peruano Pedro Castillo disse "a sua vitória é do povo chileno e a compartilhamos entre todos os povos latino-americanos que queremos viver com liberdade, paz, justiça e dignidade. Sigamos lutando pela unidade das nossas nações", afirmou

Há expectativa de que o governo de Boric retome a diplomacia com a Bolívia, após 43 anos de relações rompidas. O presidente boliviano Luis Arce celebrou o resultado do país vizinho.

"A democracia latino-americana se fortalece com base na unidade, respeito e principalmente vontade de nossos povos", declarou. O ex-presidente Evo Morales também felicitou Boric em suas redes sociais.

O presidente Jair Bolsonaro, apoiador de Kast, foi o único mandatário a não se pronunciar sobre o resultado do segundo turno no Chile.

O representante de Política Exterior da União Europeia, Josep Borrell felicitou Boric em nome do bloco e assegurou "esperamos fortalecer ainda mais nossas relçaões como futuro governo do Chile".

O ex-prefeito de Londres e líder do partido trabalhista britânica, Jeremy Corbyn riterou que é uma vitória de "esperança e mudança". 

Edição: Arturo Hartmann