DESMONTE

Retrospectiva 2021: na área ambiental, ano foi marcado pela destruição

No segundo ano de pandemia, a Amazônia e quem vive nela sofreram sucessivos ataques pelo governo Bolsonaro

Brasil de Fato | Belém (PA) |

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Relatório do IPCC destaca que o de gás carbônico é a emissão mais contaminante em consequência da interferência humana na natureza, seguido do metano - Mauro Pimentel/AFP

No terceiro ano do governo Bolsonaro, a Amazônia sofreu como nunca. Desde que o atual presidente assumiu, o desmatamento na Amazônia aumentou 76%, segundo dados do Observatório do Clima, entre agosto de 2020 e julho deste ano, foram mais de 13 mil quilômetros quadrados de destruição na maior floresta tropical do mundo. A informação é do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foi apurada entre agosto de 2020 a 31 julho de 2021.

Além disso, 2021 também foi marcado pelo avanço do garimpo ilegal em terras indígenas e pelo desmonte na área ambiental.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta que os assassinatos no campo aumentaram 30% em comparação a 2020 e o PL 191/20, projeto do governo que visa regulamentar a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em reservas indígenas, tentou legalizar o ilegal e avançar sobre os povos tradicionais. 

Para André Freitas, coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil desde que era candidato à presidência Bolsonaro declarou que iria governar para os ruralistas. 

"Se a gente for olhar para trás, ele cumpriu com as promessas de campanha, como por exemplo, que iria acabar com a tal indústria da multa. Só que ninguém pensou que esse 'acabar' ia chegar a essa destruição do meio ambiente e a toda essa desestruturação das instituições que têm o poder de controlar e combater o desmatamento como é o caso do Ibama e o ICMBio". 

Em números, o total de fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) despencou de 1.311, em 2010, para 591, em 2019, uma redução de 55%. Em 2020, houve um incremento de 103 servidores contratados pelo órgão para fiscalização, chegando a 694, mas ainda 47% menor em relação ao início da última década.

Leia também: De Lula a Bolsonaro: número de fiscais do Ibama chegou a cair até 55%

As consequências 

Somando as medidas que prejudicam a área ambiental e favorecem o agronegócio, o mundo sofreu com diversos eventos que refletem as consequências da devastação no dia a dia das pessoas.

A 26º Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26) realizada em Glasgow, na Escócia, teve como principal pauta o acompanhamento das metas definidas pelos países no Acordo de Paris.

Assinado por 190 países em 2015, o acordo estabelece metas a serem alcançadas até 2050. Mas no evento, os pontos positivos para o Brasil foram as delegações, debates e a força da juventude indígena. 

Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, analisa que é importante separar o Brasil do governo Bolsonaro na participação durante o evento.

"O Brasil teve momentos bons na COP como por exemplo a presença recorde dos indígenas. Tivemos também uma área da sociedade civil dentro da conferência que era um hub das organizações que atuam no Brasil e na agenda de clima, que recebeu pessoas importantes do mundo inteiro. Essa parte do nosso país se mostrou, dentro da conferência, e foi um ponto muito positivo da nossa participação. Já o governo ficou com os pontos negativos como era esperado", diz.

Segundo ele, a expectativa do mundo com relação ao governo brasileiro era muito baixa. "Na verdade as pessoas pensavam: se o governo brasileiro não atrapalhar já está bom demais. Eles assinaram alguns papéis, compromissos como o compromisso de metano, desmatamento zero, que a gente sabe que em hipótese nenhuma esse governo vai cumprir isso. Esse governo nos impede de realizar o potencial que o Brasil tem na agenda de clima."

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O futuro 

Com as eleições de 2022 se aproximando, a pauta ambiental, além de ser um ponto de decisão deverá ser vista de forma mais atenta pelos eleitores. 

O secretário executivo do Observatório do Clima faz uma analogia entre a saída de Bolsonaro da presidência com a travessia do deserto.

"É um cenário de terra arrasada, mas esse deserto chega ao fim no fim do próximo ano de 2022 e vamos ter que reconstruir o estrago que foi feito não só na área ambiental, mas em diversos outros setores da sociedade brasileira. Para a área de meio ambiente o que a gente precisa é mostrar ao mundo que o novo governo vai dar um 'cavalo de pau absoluto' mudar em 100% as políticas do atual governo. Não é uma mudança circunstancial. Vai ter que mudar absolutamente tudo, porque se a gente olhar, dos três anos de governo Bolsonaro, não há nada. Eu vou repetir: nenhum ato do governo que seja algo positivo para a proteção do meio ambiente no Brasil, para a proteção das nossas florestas e para uma construção saudável da imagem do Brasil nessa agenda ao redor do mundo". 

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André Freitas, coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace Brasil complementa dizendo que "houve uma licença moral do governo para que terras públicas fossem invadidas, para que o garimpo fosse aceito e fosse assumido como uma atividade normal, lícita. O que acontece na Amazônia reverbera pelo Brasil e pelo mundo".

Ele diz ainda que o momento é de fortalecer o debate sobre o quanto a devastação da floresta afeta no dia a dia dos brasileiros.

"As pessoas têm que entender que para que a conta de água delas fique mais baixa, a conta de luz, para ter uma comida um pouco mais barata, tudo depende de água, depende de chuva, depende da produtividade de uma lavoura, da qualidade do meio ambiente. Então em 2022 com o governo tentando reeleição mesmo que quase que solitário, mas é um governo que os que a gente não pode dar com o morto, temos que estar muito atentos. Haverá muito embate, mas nós resistiremos e estamos dispostos a esse debate com a população". 

Edição: Vivian Virissimo