Os fortes temporais que alagaram cidades inteiras no sul da Bahia ao longo deste último mês de 2021, com 25 mortes e 643 mil pessoas afetadas, estão se deslocando para as regiões do Centro e, principalmente, Sudeste do país. A situação deve se agravar nessas áreas nos próximos dias.
O rastro do corredor de umidade já deixa marcas nos territórios de Tocantins, Goiás e mais de uma centena de municípios no norte de Minas Gerais, tais como Mato Verde, Rio Pardo de Minas e Porteirinha.
Em Tocantins, ao menos 20 municípios estão em monitoramento pela Defesa Civil frente ao risco de transbordamento de rios. Comunidades quilombolas do interior de Goiás também sofrem com a chuva e, segundo o governo do estado goiano, 400 famílias de Cavalcante foram atingidas.
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As imagens de Salinas, uma das cidades mineiras mais afetadas, se espalharam pelas redes sociais, mostrando ruas que se transformaram em rios e salvamentos feitos de cima de jet ski e retroescavadeiras.
Atuando na força-tarefa em Salinas, a Tenente Coronel Gracielle, coordenadora adjunta estadual da Defesa Civil em MG, atualizou os dados do estado.
Desde outubro, seis pessoas morreram em consequência dos temporais em Minas Gerais. Até o momento, 124 municípios mineiros estão em situação de emergência e 14.020 pessoas tiveram de deixar suas casas.
As chuvas e os riscos no próximo período
A expectativa é que o grande volume de chuvas não dê tréguas na virada de ano.
Conforme explica o meteorologista Marcelo Seluchi, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), as áreas mais preocupantes estão agora no Sudeste.
Os temporais devem atingir a grande Belo Horizonte, incluindo cidades históricas; o Rio de Janeiro, da capital carioca, passando pela região serrana e chegando ao litoral da Costa Verde; e, de forma menos crítica, São Paulo, abarcando a região metropolitana da capital paulista, Serra da Mantiqueira, Vale do Paraíba e litoral norte.
De acordo com Seluchi há probabilidade de inundações e deslizamentos pontuais. Caso haja um acúmulo muito grande de água, é possível que ocorram problemas nas bacias hidrográficas mineiras dos rios Pomba e Muriaé.
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A boa notícia, segundo o Cemaden, é que com exceção do norte de Minas, a maior parte da região para o qual o corredor de umidade está se deslocando está com chuvas abaixo da média nos últimos 30 dias.
“Isso deve ajudar um pouco porque os rios estão relativamente mais baixos e o solo não está tão úmido”, diz Seluchi.
Esse é um dos fatores pelos quais o coordenador do Cemaden aponta que, apesar de o Sudeste ser altamente povoado e ter muita gente vivendo em áreas de risco, as chuvas intensas não devem ter o mesmo impacto catastrófico que tiveram na Bahia, onde 151 cidades estão em situação de emergência.
“Esperamos e torcemos para que não seja uma situação tão grave”, afirma.
O atípico e o típico
Apesar de uma incomum conjunção de fatores meteorológicos ter intensificado em grande medida as consequências das precipitações, trata-se de um período do ano sabidamente chuvoso nessas regiões do Brasil.
Foi esse mesmo corredor de umidade – chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul – que causou as chuvas do desastre na região serrana carioca em 2011 e as inundações em Minas Gerais no começo de 2020.
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O presidente Jair Bolsonaro (PL), no entanto, está de férias em Santa Catarina. Menos de 24h depois de seu governo recusar apoio humanitário oferecido pela Argentina, Bolsonaro foi a um parque de diversões nessa quinta-feira (30).
Lá, o presidente provocou aglomeração e fez manobras arrancando fumaça dos pneus de um carro da Hot Wheels em um espetáculo temático do parque Beto Carrero World.
*Com colaboração de Nara Lacerda.
Edição: Vinícius Segalla