Vovós DO FUNK

"É chapa quente": a história das avós que têm transformado a periferia de SP por meio do funk

Na Cidade Tiradentes, dez mulheres da terceira idade descobriram o poder da música e da união para enfrentar a pandemia

Ouça o áudio:

As Vovós da Tiradentes descobriram o potencial transformador do funk na pandemia - Pedro Stropasolas
Eu sempre digo e repito que para a gente tudo está começando agora

Tudo começou durante a pandemia de covid-19, causada por um vírus que fez da terceira idade o principal alvo. Em meio a este período triste da nossa história, um grupo de avós de Cidade Tiradentes, bairro da Zona Leste de São Paulo, resolveu transformar a dor e as angústias em música. O carro chefe é o funk, guiado pelas letras potentes compostas por MC Vovó Benta.

"Como eu sofri de depressão, de síndrome do pânico, tive covid, muitas pessoas vovós também passaram por isso e não tiveram oportunidade de falar, né?! E a gente ainda teve de pedir ajuda para uma amiga, conversar. Assim surgiu a MC Vovó Benta e as Vovós da Tiradentes", relembra a avó de três netos Benta Antônia da Silva Moraes dos Santos, de 63 anos. 

Até o momento, já são três músicas gravadas e dez registradas por elas. O boom veio com o hit “É chapa Quente, as Vovós da Tiradentes”, canção gravada em videoclipe pela produtora Puryblack.

"Você passa [na rua] e tem carro tocando as nossas músicas. No ônibus, o cobrador, a galera cumprimenta. A gente já está bem conhecida", conta a vovó Sandra Nogueira Batista, que tem dez netos.. 

Já a vovó Maria Lúcia mora no bairro desde a criação, quando ainda as ruas eram de barro e não havia nenhum dos muitos conjuntos habitacionais em meio à paisagem. Ela é quem tem mais netos. São 20 ao todo. 

"Eu acho bom, porque é uma maneira de reunir as pessoas. Nós sempre nos reunimos pra alguma coisa, pra ir à praia, a um churrasco", conta.

Hoje, a música transformadora das avós já ganhou as rádios de países da Europa e da América Latina, como o Paraguai e a Argentina. A última apresentação foi na Radio Dreyeckland, da cidade de Freiburg, na Alemanha.

Bernadete Aparecido Valério da Silva tem 63 anos e é quem faz as batidas dos hits. A avó de três netos considera que o funk é amigável e transformador, especialmente para as crianças do bairro.

"Antigamente, as vovós eram vovós, assim, de ‘olha vamos lá pra casa da vovó comer bolo, fazer bolo de fubá’ . A gente faz umas coisas gostosas para as crianças, mas agora também as crianças vêm, e é chapa quente. Tchu tcha tcha tchu tcha", pontua.

"Quando nós chegamos aqui há quase quarenta anos, não tinha nada, e hoje é uma cidade maravilhosa, com projetos maravilhosos, com jovens e atores, atletas, músicos, médicos, então tem tudo aqui dentro da nossa cidade. Isso aqui tinha que ser um município", completa a avó de três netos.

Qualidade de vida 

Mas o sonho dessas dez mulheres ainda não foi completamente realizado. O foco agora é a criação de um espaço de acolhimento para outros avós que vivem na Cidade Tiradentes.

É um pouco do que MC Vovó Benta passa na canção Empoderada. A mensagem é direta: a idade não deve ser um impeditivo para viver e ser feliz.

"Não é porque nós chegamos nos sessenta, setenta, oitenta anos, que acabou. Eu sempre digo e repito que para a gente tudo está começando agora. Então, a gente tem esse empoderamento. A gente fala nas músicas, nas letras, que as vovós precisam de um dia para praticar esportes, para poder ser feliz. A gente quer sair, a gente gosta de tomar uma cerveja, a gente gosta de dançar", finaliza a vovó. 

Para apoiar o trabalho das Vovós da Tiradentes e a criação de um espaço de acolhimento para elas na comunidade, entre em contato com a MC Vovó Benta no instagram: @mcvovobenta.

Edição: Geisa Marques