O caos vivido pela ciência brasileira nos anos de governo Bolsonaro é tema de um artigo publicado na edição da histórica revista de saúde The Lancet. Um dos mais importantes do mundo, o periódico científico abriu espaço para texto de autoria dos pesquisadores Bernardo Galvão-Castro, Renato Sérgio Balão Cordeiro e Samuel Goldenberg
O artigo cita cortes orçamentários milionários, ataques à autonomia das universidades e o negacionismo presente no governo como parte da uma política de desmonte.
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“Um recente corte de US$ 110 milhões no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, além da retenção de US$ 490 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, não apenas representa um enorme impedimento para a realização de pesquisas em universidades e institutos de pesquisa, mas também compromete o desenvolvimento científico futuro de um país”, ressaltam os autores.
Eles pontuam ainda que o cenário tem causado “uma fuga de cérebros entre cientistas e desmoralização e descontentamento”.
Intimidações e constrangimentos
No artigo publicado pela The Lancet, Galvão-Castro, Cordeiro e Goldenberg também citam os riscos de “sanções indiretas” a pesquisas que contradizem posições defendidas pelo governo.
O texto traz como exemplo um decreto de Jair Bolsonaro que, em novembro passado, revogou a concessão da Ordem do Mérito Científico concedido à médica Adele Schwartz Benzaken e ao médico Marcus Vinicius Guimarães de Lacerda.
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Benzaken é reconhecida por seu trabalho no combate a doenças transmissíveis em prol da saúde da população LGBTQIA+. Ela coordenou os trabalhos do Departamento de DST/HIV/Aids e Hepatites Virais (DIHV) do Ministério da Saúde, que produziu uma cartilha de educação sexual destinada à população trans. O material foi alvo de ataques durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro, que cancelou a publicação ainda no início do mandato.
O infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda tem um importante papel em pesquisas para prevenir e tratar doenças como malária HIV/Aids etuberculose. Ele atraiu a fúria bolsonarista ao conduzir um estudo sobre o uso da cloroquina para tratamento da covid, que indicou riscos para os pacientes.
Após a revogação da honraria, 200 cientistas que receberam o prêmio anteriormente publicaram uma carta pública condenando a decisão do governo. O artigo conclui que os constantes cortes nos investimentos não trazem consequências limitadas ao setor da pesquisa, mas também afetam a educação, a saúde pública, o meio ambiente e programas culturais.
“Esperamos que o Brasil não continue a se pautar pelo negacionismo e evite a degradação da ciência”, concluem os autores.
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Edição: Vinícius Segalla