Extrativismo

Comunidades costeiras protestam contra extração de petróleo no mar argentino

Mobilizações acontecem em todo o país contra a concessão dada pelo governo à petroleira norueguesa Equinor

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |
Avanço da atividade petroleira no mar argentino não conta com aval da sociedade civil e setor econômico dependente do turismo e da pesca na região. - Sado Colectivx Fotográfico/Agência Tierra Viva

Dezenas de cidades em províncias costeiras na Argentina se mobilizam na tarde desta terça-feira (4) contra a atividade petroleira no mar argentino. Denominado Atlanticaço ("Atlanticazo", em espanhol), a reação coletiva convoca protestos contra a Resolução 436/2021, que autoriza a exploração sísmica offshore – ou seja, afastada da costa.

No último dia de atividades de 2021, o Ministério do Meio Ambiente aprovou a atividade extrativista na região em frente à costa de Mar del Plata, na província de Buenos Aires, com uma concessão à petroleira norueguesa Equinor. A empresa havia solicitado a concessão em 2020. A exploração autorizada pela resolução publicada no Diário Oficial no dia 30 de dezembro utiliza uma técnica de sensores sonoros para identificar as zonas com petróleo para posterior perfuração.

Especialistas apontam os danos de tais ruídos para a fauna marinha, como afetação de conduta, na busca por alimentos, estresse e deslocamento forçado, segundo destacado pela ONG Greenpeace.

A decisão também contraria argumentos de cientistas e o posicionamento da sociedade civil e do setor econômico dependente do turismo e da pesca na região, expostas em uma audiência pública promovida em julho de 2020 pela Secretaria de Mudança Climática, ligada ao Ministério do Meio Ambiente. Foram contundentes os pedidos de moradores da cidade de Mar del Plata por "um mar sem petroleiras". O mesmo lema é levantado no Atlanticaço, convocado pela Assembleia por um Mar Livre de Petroleiras e outras organizações de comunidades costeiras.

"Há muitos anos, independentemente da vertente política que governe, nossos bens comuns estão sendo vendidos em todo o país", diz Maximiliano Pomponio, morador de Mar del Plata e integrante da Assembleia por um Mar Livre de Petroleiras, em entrevista à Agência Tierra Viva. "É uma fronteira que se amplia todo tempo, em detrimento das comunidades e populações e a favor das grandes corporações e governos."

"Apaguem o fogo já"

A problemática sobre as águas argentinas chega em paralelo a incêndios que se alastram em 12 províncias de norte a sul do país. Por esse motivo, algumas convocatórias para as mobilizações de hoje unem ambas reivindicações ao governo nacional.

Na capital federal, a mobilização se concentrará às 17h na Praça de Maio, em frente ao Ministério de Economia, contra os cortes no orçamento destinado ao controle do fogo e fiscalização para prevenir os incêndios, visando ao pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) pela dívida contraída pelo ex-presidente Mauricio Macri (PRO). 


Convocatória por ações do governo contra os incêndios na Argentina. / Coordinadora Basta de Falsas Soluciones

A Coordenadoria Basta de Falsas Soluções (BFS), que reúne diversos coletivos e organizações ambientalistas, ressalta na convocatória que "não podemos ficar de braços cruzados". Somando forças à mobilização do Atlanticaço, propõem um bloqueio da Av. 9 de Julho, em pleno centro da cidade bonaerense.

*Com informações da Agência Tierra Viva e Resumen Latinoamericano

Edição: Thales Schmidt